sexta-feira, agosto 12, 2005

Veterano de Linux revela mudanças na Microsoft




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O nome Microsoft ainda provoca arrepios nos participantes da conferência de software livre, LinuxWorld, realizada esta semana em São Francisco, nos Estados Unidos. Entretanto, cada vez mais defensores do código-fonte aberto e executivos da Microsoft reconhecem que é hora das duas plataformas começarem a conviver.

Com este propósito, a Microsoft contratou Bill Hilf, um veterano da indústria de software livre. Como diretor da estratégia de plataformas tecnológicas da Microsoft, Hilf está liderando a primeira palestra técnica da LinuxWorld - e a primeira da Microsoft no evento - que mira a administração Linux em ambientes mistos.

Em entrevista a Jennifer Mears, editora sênior da revista Network World, Hilf falou sobre o laboratório de código aberto da Microsoft e para onde a gigante de software está se dirigindo.

Network World - Conte sua experiência e como você veio parar na Microsoft.

Bill Hilf - eu comecei na Microsoft há 20 meses. Tenho trabalhado em código aberto e Linux por 12 anos. Entrei na IBM por volta de 1999 quando a empresa estava começando a ampliar seu interesse em Linux.
No final de 2003, a Microsoft entrou em contato comigo e disse "nós precisamos entender o software de código aberto e o que podemos aprender com isso."

NW - Existe algum conflito interno em ir trabalhar na Microsoft, considerada por muitos integrantes da comunidade de software livre como o império do mal?

BH - Claro. Muitas pessoas olham a Microsoft de longe e enxergam uma companhia que ganha toneladas de dinheiro e que vende software proprietário. Na realidade, a Microsoft é uma empresa técnica, cheia de tecnólogos e conduzida por eles. Como sou um tecnólogo é um lugar muito interessante para trabalhar. Eu adoro a IBM. É uma ótima companhia, mas é uma empresa de vendas dirigida por vendedores.

NW - E quanto ao comentário que Steve Ballmer, da Microsoft, fez há alguns anos dizendo que o Linux era um câncer?

BH - É como um chiclete grudado na sola do sapato. Não importa o que aconteça, ele não consegue sair de lá. Isto ocorreu muito antes de eu entrar na empresa.

NW - Você poderia citar duas ou três grandes áreas onde vê o software livre como uma ameaça à Microsoft? E como a empresa está reagindo?

BH - Não se trata apenas de concorrência. Vamos competir com produtos do espaço de código aberto, bem como na área comercial, como sempre aconteceu. No entanto, há muita oportunidade para nós e muitos caminhos para interagir com estas tecnologias. Nós não costumamos ver muitas coisas técnicas e pensar, "isto vai ser o fim da indústria de software como a conhecemos."
Se você me pedir para listar todas as coisas que eu vi, nos últimos 12 anos, que são inovações radicais, elas não vieram do código aberto. O software livre é uma grande engenharia de comoditização. Então, quando vemos pessoas tornando commodity uma tecnologia com a qual ganhamos dinheiro, claro, é uma ameaça pra nós e para todo mundo.

NW - Você vê, por exemplo, este processo de comoditização ocorrer em produtos de gerenciamento de identidade na comunidade de software livre?

BH - A maioria tem ocorrido e ocorre no que eu chamo de infra-estrutrura do servidor, ou na ponta da rede de servidores. Não vejo, por exemplo, comoditização em sistemas de supply chain ou de gestão. Mas vejo em um servidor de nome de domínio (DNS), por exemplo.
Você tem de continuar inovando para ficar no jogo. E a razão pela qual eu digo isso com segurança é que os próximos 18 meses serão um ciclo de lançamentos inovadores na Microsoft. Nós lançaremos mais softwares nos próximos 18 meses do que há muito tempo não fazemos.

NW - Fale sobre o laboratório de Linux e o que você tem feito lá.

BH - Temos cerca de 300 sistemas cliente e servidor rodando mais versões de Linux e Unix do que qualquer usuário seria capaz de rodar. É um ambiente extremamente heterogêneo que usamos para testar nossos produtos. Estamos fazendo isso neste momento com nosso Windows para servidores chamado R2, que chega ao mercado no final deste ano incluindo uma série de características de interoperabilidade para Unix.

NW - E como anda aquele programa de compartilhamento de código-fonte, que oferece acesso militado ao código. Isso é algo que pode ser expandindo?

BH - Sempre vai haver uma necessidade de pessoas querendo acesso ao código-fonte. Tendo passado tanto tempo na comunidade de código aberto, sinto que o código-fonte é somente uma pequena peça do fenômeno que se chama software livre. A parcela muito maior é o processo de comunidade. Esta é a mágica.
Acho que o que vai se expandir na Microsoft é a forma como pensamos em comunidade e em nossos produtos.
Um exemplo disso é olhar como mudamos a forma de usar blogs. Temos um número maluco de desenvolvedores que blogam todos os dias. Isso não existia há dois anos.

NW - A Microsoft vê espaço para softwares de código aberto e proprietários?

BH - Sempre vai haver co-existência entre software comercial e livre. Nós não teríamos iniciado programas de compartilhamento de código se não víssemos uma necessidade de dar aos clientes mais transparência no código-fonte.
As pessoas dizem que existem fanáticos no universo do código aberto. Eles deviam passar um tempo em Redmond - sede da Microsoft no Estado de Washington (EUA).
Existem pessoas incrivelmente apaixonadas em torno da nossa tecnologia e acreditamos que estamos construindo grandes coisas. É muito empolgante.
Jennifer Mears - Network World, EUA

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