Por Cristina De Luca

"Temos aí uma bandeira que gostaríamos que fosse compartilhada por todos os radiodifusores. Que todo o televisor broadband fosse também interativo. Viesse com o Ginga em sua especificação completa", disparou Raymundo Barros, diretor de engenharia da TV Globo de São Paulo, no segundo painel dedicado ao tema Broadband TV na SET 2009, que aconteceu semana passada em São Paulo, revelando uma possível estratégia da emissora diante da tendência de popularização de televisores com acesso direto a conteúdos da Internet também no Brasil.

Sentado ao seu lado, Daniel Petrini, gerente de P&D da Samsung, fabricante do primeiro aparelho a venda no Brasil com o recurso, fez que não ouviu. E, durante sua resposta a uma pergunta da platéia sobre  a sobreposição de conteúdos publicitários, evitou tocar no assunto. Mas depois, em particular, limitou-se a responder que a integração do modelo de widgets do recurso Internet@TV com o Ginga não está nos planos da fabricante, no curto prazo.

"Uma coisa não é concorrente da outra, de jeito nenhum. Uma coisa não exclui a outra", afirmou Petrini. "Hoje temos internet TV. Daqui a alguns anos vamos ter Ginga também? Não sei. Esse modelo com internet que já está no mercado não terá Ginga. Se, lá na frente, o cenário Ginga existir, quem quiser interatividade via Ginga terá que comprar um novo modelo", disse.

As falas, além de deixarem bem claras as apostas da emissora e da fabricante com relação ao middleware Ginga e o futuro da interatividade no SBTVD, demonstram também que a internet, na TV, deixou de ser encarada como ameaça para figurar como vetor de novos modelos de negócio.

Partindo de um cenário em que Broadbnd TV não significa acesso full à internet, mas sim acesso a um ambiente controlado oferecido ao telespectador através da mediação de alguém (no caso da Internet@TV um servidor da própria Samsung, que recebe, empacota e redistribui conteúdo do Terra e do YouTube), a Globo sugere que todo conteúdo interativo sobreposto ao vídeo nos canais de TV aberta seja sempre controlado pelo radiodifusor. E que a forma ideal para que isso aconrteça seja através do uso do Ginga.

Assim ficaria mais simples evitar problemas com eventuais widgets não relacionados diretamente aos programas televisivos que estejam sendo transmitidos pelas emissoras. Especialmente conteúdos publicitários conflitantes, que firam os direitos autorais do radiodifusor, dono do conteúdo, conforme explicou também na SET 2009 o advogado Rodrigo Köpke Salinas, do escritório Cesnik, Quintino e Salinas, em outro painel sobre o tema Broadband TV comandando por Fernando Bittencourt, diretor de Enhenharia da Rede Globo. "A sobreposição de conteúdos só é possível se houver autorização do titular do conteúdo", disse ele, reforçando as argumentações das emissoras nesse sentido.

 

 A Globo vai além. Nas discussões internas, o grupo de TV Digital da emissora defende a estratégia de que todos os conteúdos interativos estejam de alguma forma relacionados relacionados ao programa de televisão. Principalmente no caso dos programas ao vivo, como novelas e transmissões de jogos de futebol.

O SBT já pensa diferente. "Achamos que incluir a interatividade casada com um conceito de grade ia complicar", diz Roberto Franco, diretor de tecnologia do SBT. "A ideia do SBT é de que a TV deve ser uma plataforma integrada de acesso a conteúdos, informações e entretenimento. Eu posso oferecer muito desse conteúdo pelo ar e outros através dos canais de interatividade, sem relação direta com o vídeo. Mas não vou botar conteúdos de terceiros sem antes negociar com eles os direitos desse conteúdo", afirma o executivo.

"A plataforma interativa, com ou sem internet, é mais uma forma de agregar valor ao nosso conteúdo", diz ele. "Eu posso caminhar da cabeça para cauda longa e da cauda longa para a cabeça. Agora, que bicho será esse já não sei definir", explica Roberto Franco. 

O que importa cada vez mais para os radiodifusores é que o telespectador não precise sair da plataforma TV para zapear, não só entre canais, mas também entre conteúdos de diferentes fontes, que enriqueçam sua experiência de informação e entretenimento.

Pensanso nisso, alguns fabricantes de equipamentos e desenvolvedores de software já trabalham em soluções que combinem o implementações do Ginga com conteúdo Broadband TV. Algo nessa linha poderá estar disponível para o consumidor ainda este ano. Tudo vai depender do comportamento do mercado

Fonte: Convergência Digital