O Festival do Rio vai exibir um filme que pode ser visto na internet, copiado para os amigos e até modificado à vontade por seu espectador. "Rip: um manifesto remixado" é uma raridade num disputado mercado em que cineastas passam mal só de imaginar que parte de sua obra possa cair na rede gratuitamente. A diferença é que o tema do documentário do diretor canadense Brett Gaylor é justamente a importância de que a informação circule livremente.

A "pirataria" não é um termo usado por Gaylor. "Rip" trata do acesso a ideias. Para isso, ele busca histórias e personagens que tiveram problemas com a indústria fonográfica, como a americana Jammie Thomas-Rasset, a funcionária de uma reserva indígena que foi condenada a pagar US$ 222 mil por compartilhar 24 músicas, e o artista Girl Talk, um dos mais famosos DJs contemporâneos de mashup, a prática de misturar duas ou mais canções numa só. "Nós queremos mostrar que é perda de tempo ficar atacando a pirataria ou fazendo leis que punam as crianças que baixam música. Mas isso também não quer dizer que achamos que tudo deva ser de graça", explica Gaylor.

No Brasil, auxiliado pela produtora Daniela Broitman, Gaylor passou um mês, filmou bailes funks, entrevistou artistas e tratou o país como uma prova de que a informação não precisa ser controlada. Seu primeiro contato com Gilberto Gil, ministro da Cultura na época das filmagens de "Rip", foi por conta do apoio do artista baiano à Creative Commons, organização que defende licenças abertas de uso de conteúdo. A equipe do filme também fez uma oficina de vídeo na favela da Rocinha, e as imagens dos jovens foram incorporadas à edição final. "Conheci o 'Manifesto Antropofágico' e aprendi como a cultura brasileira foi formada por um mix de outras culturas. Foi bastante inspirador descobrir que o Brasil é reconhecido por ter se baseado no que veio antes. Eu acho que isso é uma experiência fabulosa para pensarmos o que se deve fazer no século XXI", diz Gaylor.

O século XXI, porém, ainda não está inteiramente aberto às ideias de Gaylor. No filme, numa locução em off, o próprio diretor explica que "usar essas músicas é contra a lei", com relação ao material usado no filme. Por isso, alguns festivais e canais de TV se negaram a exibir o documentário. Apesar disso, a obra foi financiada pelo National Film Board of Canada, uma agência pública de cinema.

Sessões para conferir o filme no Festival do Rio:
Terça - 29/09/2009 Cine Glória 20:00:00 hs
Quarta - 30/09/2009 Estação Vivo Gávea 5 17:30:00 hs
Sexta - 02/10/2009 Estação Vivo Gávea 2 22:20:00 hs

Fonte: Globo Online