17 de Setembro de 2009 - 17h50 - Última modificação em 17 de Setembro de 2009 - 21h12
Período pós-crise dá chance de pensar crescimento de longo prazo, diz presidente do Ipea
Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O período pós-crise financeira internacional abre ao Brasil a possibilidade de pensar o longo prazo, disse hoje (17) o presidente do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann. Ele participou, nesta capital, do Fórum Especial promovido pelo Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento econômico e Social (BNDES).
Pochmann observou que a crise não interrompeu a perspectiva de longo prazo. Nas duas últimas décadas, acrescentou, o país esteve “contaminado” pelo curto prazo. “O comportamento da economia foi oscilante, com subidas e descidas, mas, na média, com baixo desempenho em termos de produtividade. E a recuperação que vinha se dando em cima do investimento nos colocava o que queríamos ser, porque o cenário de longo prazo exigia um redirecionamento do ponto de vista do governo.”
Ele afirmou que programas com a perspectiva de crescimento de longo prazo foram desenvolvidos nos anos 90, na gestão de Fernando Henrique Cardoso, como o Avança, Brasil. “Os resultados, entretanto, foram muito pequenos”. Somente no governo Luiz Inácio Lula da Silva, eles passaram a ter mais “concretude” e já apresentam resultados positivos, avaliou.
De acordo com o presidente do Ipea, isso talvez faça com que o debate eleitoral seja fortemente contaminado pela expectativa de país que se quer ter. "Porque, seja qual for o candidato, ele não estará submetido à lógica do ‘curtabrasismo’'' - ou seja, de pensar o Brasil a curto prazo. "Deverá ter, então, pela primeira vez após o regime militar, um processo eleitoral em que se estará discutindo não a conjuntura, mas o tema do que queremos com o Brasil para os próximos anos.”Pochmann acredita que a economia brasileira tem possibilidade de crescer em níveis elevados, como já experimentou em décadas passadas. Para isso, alertou, o Brasil ainda precisa completar a sua industrialização. Embora tenha uma base diversificada, ainda há lacunas importantes a serem preenchidas do ponto de vista de uma política de industrialização, acentuou. É preciso, salientou, reduzir a dependência que o país tem do exterior em setores em que o Brasil é ofertante de bens primários.
Ele citou o caso do extrativismo mineral e sugeriu que caberia plenamente uma política de reforço no âmbito da siderurgia, por exemplo. O mesmo se sucede com relação às áreas química, petroquímica e álcool-química. Paera o presidente do Ipea, a exploração do pré-sal deve ser acompanhada de uma política de reforço da cadeia produtiva.
Pochmann afirmou ainda que o Brasil deve priorizar a produção de serviços mais sofisticados, especialmente aqueles vinculados ao conhecimento. “Esse é o momento de investimentos nessas áreas de formação”. Lembrou que nos tempos atuais, da pós-industrialização, a sociedade do conhecimento é o principal ativo. Citou que os países mais desenvolvidos têm uma pauta de exportações de serviços significativa. “Esse é um espaço que o Brasil precisaria melhor recompor.”
É importante que o Brasil abandone os modelos copiados do exterior no passado e passe a criar sistemas visando ao fortalecimento do setor de serviços, analisou o presidente do Ipea. “O século 21 nos coloca diante da possibilidade de arrancarmos juntos com outros países e não ficarmos atrás, como foi em outros momentos. O Brasil tem condições de protagonizar uma oportunidade diferente daquela a que estava anteriormente submetido. Agora, tem condições de criar.” Isso poderá ser feito combinando-se democracia com crescimento econômico, distribuição de renda e sustentabilidade ambiental, completou Pochmann.
Edição: João Carlos Rodrigues
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