Mas, dessa semana, não deve passar. A expectativa é de que a entrega à ABNT e o início da consulta pública sejam anunciadas no 25º Congresso Brasileiro da Radiodifusão, evento que começa nesta terça-feira, 19, e vai até o dia 25, em Brasília, pela Abert - Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão.

De qualquer forma, definido o middleware - aquele que é tido como próximo grande passo na evolução da TV Digital - a interatividade, de fato, passa a depender da ação direta dos radiodifusores; da indústria de software e, principalmente, da indústria de receptores. Os dois primeiros atores já trabalham duro. Eles afirmam que estão preparados para oferecerem as primeiras aplicações interativas ainda este ano. O melhor cenário é de que isso aconteça em novembro.

Já entre a indústria de receptores, a história muda de figura. Pouquíssimos assumem planos de começar a venda de conversores com o Ginga embarcado ainda em 2009. Entre eles, está a Visiontec, segundo Ricardo Minari, Gerente de Negócios e tecnologia da empresa, que segurou sua entrada neste segmento de mercado aguardando a interatividade como diferencial. Se tudo correr bem com a consulta pública do Ginga, a estréia dos conversores interativos da Visiontec no mercado pode acontecer já na SET, eventodo setor, que acontece no fim de agosto.

Mas a Intel, por exemplo, ainda não recebeu pedidos de OEMs da Tecsys, parceira na produção de três set-top-boxes usando o precursor dos System on Chip, o CE2110, segundo Américo Tomé, Gerente de Novas tecnologias da Intel para a América Latina. Ele próprio crê que esse movimento somente agora comece a acontecer. E na visão dele, os primeiros produtos devem desembarcar no mercado para as vendas de Natal. "Até lá, temos tempo. As entregas, para esse tipo de processadores, levam entre 30 a 40 dias", diz ele.

Na ponta da indústria de televisores, a LG, primeira a colocar no mercado televisores com conversores embarcados - e que já estuda a instalação do Ginga - não crê que este mercado deslanche agora. Oficialmente, a aposta da companhia na interatividade é para daqui a um, dois anos, segundo Fernanda Summa, gerente de produto TV. Hoje a empresa ofecere um mix de 14 modelos, de 32 a 60 polegadas, com preços variando de R$ 2 mil a R$ 11 mil, acrescidos de R$ 200 quando já saem de fábrica com os conversores embutidos.

Um site, chamado "Os remotos" (http://www.osremotos.com.br/), no ar desde o início da semana passada, desmistifica a TV digital para os consumidores, explorando os benefícios da alta definição e da mobilidade.

E detalhe. Embora já tenhamos ouvido algo diferente, a maioria dos conversores disponíveis hoje não aceita o upgrade para o middleware Ginga. O motivo? A baixa capacidade de memória. É o caso desses conversores embutidos nas TVs LG, segundo Feranda Summa. O problema também acontece em várias outras caixas, das mais simples às mais sofisticadas. O middleware necessita de 64Mb só para ele. E o receptor deve ter memória extra para rodas as aplicações. A criada pela Globo e a TQTVD para "Caminho da Índias", por exemplo, tem 2Mb, transferidos interalmente para o conversor.

Na opinião de muitos agentes envolvidos neste mercado, por serem catalizadores de venda, nos próximos 12 meses, vão ocorrer dois momentos-chave, capazes de assegurar o sucesso da chegada da interatividade no Brasil: O Natal deste ano e a Copa do Mundo do ano que vem.

Eles determinarão, de fato, o ânimo do consumidor para o ciclo de vida dos produtos (no caso, os conversores). O grande enigma é se este ciclo estará mais próximo do dos televisores ou do dos computadores e celulares. O brasileiro costuma trocar de celular a cada 12 meses. Trocar de computador a cada 30 meses, em média. Mas os televisores ficam em nossos lares por 10 anos... Isso mudaria?

Outro fator determinante será o apoio da indústria de receptores _ principalmente multinacionais _ ao Ginga. Tido por muitos como um passo adiante na história da interatividade na TV _ e agora, além de brasileiros e japoneses, também pela UIT _ , bem superior a tudo o que já se fez até hoje, o maior temor é de que acabe se tornando um Betmax ou um OS/2 da vida. razão pela qual ninguém parece disposto a correr o risco de acelerar o mercado _ embora instrumentos para isso não faltem _ e frustrar os telespectadores.

Devagar e sempre é o lema de quem aposta sério no negócio interatividade.

Governo como indutor

Outros detalhes, não discutidos diretamente no fórum SBTVD, mas gestados em Brasília, poderão fazer diferença. É o caso da portaria determinando a instalação do Ginga em 5% da produção nacional de celulares com incentivo fiscal já a partir de janeiro de 2010.

A expectativa é de que o mesmo aconteça com outra portaria em gestação no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, determinando a a obrigatoriedade, da incorporação dos receptores de TV com cinescópio para capacidade de recepção de sinais digitais, a partir de 1º de janeiro de 2012, seguindo as normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T). E também para televisores com tela de plasma e com tela de cristal líquido, com prazos diferentes, mais próximos.

Para os televisores de plasma e de tela de cristal líquido iguais ou superiores a 26 polegadas, o prazo teria início também no dia 1º de janeiro de 2010. Já os televisores inferiores a 26 polegadas passariam a incorporar a recepção digital somente a partir de 1º de janeiro de 2011.

A portaria, que altera regras dos Processos Produtivos Básicos (PPB) desse segmento de mercado, foi objeto de duas Consultas Públicas (as de número 5 e 6), publicadas no Diário Oficial da União no dia 16 de abril, com duração de 15 dias. O resultado ainda não foi publicado. Mas as articulações para que, pelo menos uma parte desses aparelhos obrigatoriamente incorporem o Ginga, não tardam.