Inicia no dia 24 de junho, em Porto Alegre, o 10ºColetiva_bancarios Fórum Internacional de Software Livre, o fisl10.O evento é voltado para temáticas de tecnologias livres e tem como público alvo desenvolvedores e programadores de sistemas abertos. O Fórum acontece no Centro de Eventos da PUCRS e se estende até o dia 27 do mesmo mês. A 10º edição do Fisl se estabelece nesse ano como o maior e mais antigo evento de tecnologia do país e o maior encontro de software livre da América Latina. Até o momento, 10/06, o Fórum já contabiliza 5377 inscritos. A coordenação do evento espera que até dia 24/06, o número alcance a marca de 8 mil participantes. Ao todo, o fisl desse ano reúne mais de 300 atividades distribuídas dentro do salão da PUCRS e em pontos estratégicos da capital gaúcha.

Entre as novidades desta edição, a Arena de Programação ganha destaque pelo foco das atividades e pela sua premiação. Marcelo Branco, coordenador geral do evento, contou que esse ano a Arena deve terminar um  importante projeto internacional direcionado para questões de segurança. Além disso, os vencedores serão premiados com o celular do Google, G1, aparelho que trabalha com sistema operacional baseado em software livre.

O Fisl10 terá entre os palestrantes Richard Matthew Stallmam, fundador do Movimento Software Livre, Peter Sunde, um dos fundadores do site The Pirate Bay, e John Maddog Hall, presidente fundador da Linux Internacional

Antecipando detalhes do 10º Fórum Internacional de Software Livre, o Olhar Digital entrevistou o coordenador do evento, Marcelo Branco. Confira abaixo a entrevista e mais novidades sobre o evento.

O Fórum já está na 10ª edição. Como foi o crescimento do evento ao longo dos anos?

Eu acho que quando idealizamos o Fisl, nós fomos visionários quase que por acaso. A gente não imaginava as dimensões do evento no mundo inteiro, e a importância que ele teria para o desenvolvimento do software livre no Brasil. Eu acho que o fisl cresceu muito, né? Era um ambiente idealizado só para hackers e desenvolvedores, e hoje temos a participação de diversos ativistas, pequenas, médias e grandes empresas, administrações públicas. Enfim, isso só demonstra o crescimento e a importância do software livre como alternativa tecnológica no mundo inteiro.

Mas a gente tem acompanhando notícias que dizem que Fisl está com dificuldades de se firmar no Rio Grande do Sul e, ao mesmo tempo, existem outras cidades disputando o evento. O que está realmente acontecendo?

O software livre é fruto da internet, portanto ele é uma coisa nova. É uma novidade para as empresas do mercado, elas estão procurando construir os seus modelos de negócios baseados nessa alternativa. E eu acho que essa disputa, digamos assim, positiva para onde o fisl vai ficar, não demonstra nenhuma dificuldade, pelo contrário, demonstra exatamente o grande espaço que o Fórum Internacional de Software Livre ocupa no Brasil e no mundo inteiro. Então é positivo que, por exemplo, o governo do Paraná tenha interesse, o Rio de Janeiro tenha interesse. Mas o fisl está garantido. Ele está patrocinado, em um momento de crise mundial. O fisl está confirmado, inclusive, com o maior número de patrocinadores públicos e privados da história inteira do evento.

A repercussão nos meios de comunicação sobre a entrevista coletiva da semana passada informa queda de patrocínio no evento desse ano. Então, essa informação não confere?

Não, essa informação não confere. Acho que são interpretações mal feitas a partir da análise do nosso portal. O fisl está batendo recorde no número de patrocinadores e também no volume de recursos arrecadados. Empresas que nunca tinham patrocinado o fisl até então confirmaram participação, e várias pequenas e médias empresas privadas, além das grandes empresas globais de tecnologia estão confirmando a presença no Fórum.

No caso de Porto Alegre, o prefeito Fogaça disse recentemente que tem interesse em manter o evento na cidade. Já foi feita alguma proposta da cidade ou do estado nesse sentido?

Sim, nós tivemos uma reunião com o prefeito Fogaça nessa semana e ele demonstrou interesse em manter o fisl em Porto Alegre. Temos uma nova reunião pra ver de que forma a prefeitura pode apoiar com mais qualidade o fórum desse ano e já traçando a perspectiva para o fisl 11, em 2010. Estamos tentando, ainda, marcar uma audiência com a governadora Yeda Crusius e com o presidente da Procergs pra ver de que forma a gente ajusta os ponteiros com o Governo  e acreditamos que iremos acertar.

A edição desse ano traz algumas novidades. Uma delas é o Festival Internacional de Robótica Livre. O que exatamente é esse festival?

É uma parceria com a Congregação Marista, que tem trabalhos de robótica a partir de sucatas. A idéia é que durante o fisl sejam montados robôs e que se dê oficinas sobre a montagem, todos com tecnologia livre. Mas o fisl não fica só na Puc, ele se espalha pela cidade nos principais locais de fomento cultural de Porto Alegre. E paralelo ao fisl está acontecendo uma atividade muito importante, organizada pelo Festival de Música Para Baixar. Vários músicos estão vindo para a cidade fazer um debate paralelo no Sindicato dos Bancários sobre a questão do novo direito autoral no cenário digital, a questão de como disponibilizar suas músicas e conteúdos através da internet, no novo modelo de sustentação dos artistas nesse cenário. Então vai ter um conjunto de músicos importantes e compositores na cidade de Porto Alegre discutindo alternativas no cenário da internet.

Mas qual o direcionamento desse debate? De que forma os músicos encaram a internet hoje?

São músicos que não concordam com a tese de que baixar músicas na internet é pirataria. Não concordam que se estabeleçam restrições e vigilância na rede para impedir esse tipo de prática social tão comum no mundo inteiro. Então eles se unem nesse debate pela liberdade na internet que é um dos pontos principais do Fórum Internacional de Software Livre. 78% das palestras são técnicas, mas nós também vamos abordar algumas palestras filosóficas, culturais e temáticas do software livre e uma delas tem a presença do Peter Sunde, do Pirate Bay, que vai estar, digamos assim, animando esse grande debate sobre a liberdade na internet, em função do projeto de controle e vigilância da rede do senador Azeredo.

E além do Peter Sunde, que outros nomes conhecidos vão participar do Festival? Alguma banda?

O Teatro Mágico, né? Que é emblemático, porque eles têm todo o seu trabalho na internet, não divulgam o seu trabalho de outra forma, nos grandes meios. Então é um fenômeno da internet. Vários DJs e músicos do Brasil inteiro também vão estar presentes. O que a gente precisa entender é que 99% dos músicos e criadores não se beneficiava com o modelo de distribuição e cópia do período anterior e da forma que a receita era parcelada. Então a gente acredita que essa nova alternativa, com a liberdade de criação, liberdade de cópia, liberdade de modificação da obra original, o sampler, a possibilidade de remixagem, etc, etc. criam uma alternativa muito importante e nova para os criadores, e podem criar novas alternativas, novos modelos de sobrevivência para os artistas, muito melhor do que o da era industrial que, infelizmente, era um modelo injusto com a maioria dos cantores e compositores. Então o que a gente tá querendo dizer aqui e discutir é que a internet não é inimiga dos autores, pelo contrário, a internet está criando novas alternativas de sobrevivência para os autores, novas possibilidades que não existiam no período anterior.

A Feira também realiza a Arena de Programação. Existe algum programa vencedor de edições anteriores que tenha ganhado maior destaque fora do evento? Alguém que se revelou no fisl?

No último fisl a Arena de Programação era trabalhada em cima da plataforma de desenvolvimento dos produtos da Nokia, e certamente isso ajudou muito nas soluções para dispositivos móveis que já utilizam o software livre há algum tempo. Esse ano o conteúdo dos desafios é ainda uma surpresa. Mas, possivelmente, em função de toda a temática que nós estamos abordando, será em cima do tema da segurança. Então nós vamos trabalhar desafios para os hackers e desenvolvedores, que melhorem a qualidade e segurança da internet em nível mundial. Eu só posso antecipar que, durante esses desafios da Arena de Programação, nós vamos terminar um importante projeto internacional para internet que vai garantir maior segurança para a rede mundial.

Como surgiu a parceira com o Google na premiação da atividade?

Sim, o Google vai dar o prêmio para os vencedores, que é o seu novo celular com sistema operacional Android, o G1. O Google já esteve algumas vezes presente no fisl como patrocinador. Teve um ano inclusive que ele veio recrutar, e levou alguns brasileiros para trabalhar no Google mundial. Mas nós temos também uma outra parceria, que são telefones celulares que utilizam a plataforma Openmoko, também baseada em GNU/Linux, e que estarão à venda especialmente para os participantes do fisl. Para aqueles aficionados pelo software livre, que não abre mão de ter um sistema operacional livre no seu smartphone, taí a oportunidade. É uma iniciativa do John Maddog, que está trazendo para o Brasil com exclusividade a venda desses aparelhos. Então eu acho que o fisl está trabalhando em diversos aspectos, reforçando muito essa idéia do software livre como um novo modelo de negócio, reforçando a idéia de ecossistema de empresas desse novo modelo. Trazendo as discussões de liberdade da internet, e trazendo também 78% de palestras técnicas para aprimorar o conhecimento dos nossos técnicos no Brasil.

Assim como o Google, outras empresas vêem o fisl como espaço para recrutamento de bons profissionais?

Na verdade, a nata da internet brasileira vai estar presente no fisl. Os mais inovadores, os mais especialistas nessa área de software livre. Então é óbvio que qualquer empresa já vem ao fisl pensando nesses recursos humanos de super especialistas que nós temos no Brasil. O Brasil tem uma qualidade de recursos humanos muito boa nessa área de software livre por várias razões, principalmente porque o brasileiro é muito auto-didata. A internet nos ajudou a superar a dificuldade no nosso ensino básico, no nosso ensino fundamental e no nosso ensino superior na área de física e matemática, que são bases para as ciências da computação. Já tem jovens, por exemplo, brasileiros, que ainda não têm curso superior, ou estão ainda no segundo grau, e já são excelentes programadores reconhecidos internacionalmente. Então acho que a internet abriu as portas do Brasil para essa área da tecnologia, pela característica generosa e colaborativa que o povo brasileiro tem.

Pesquisa divulgada recentemente pelo instituto Freedom Dynamics afirma que muitas corporações sofrem resistência interna ao adotar plataformas em Linux. O fisl oferece algum tipo de serviço às empresas que desejam usar os sistemas operacionais livres, já que a adaptação inicial dos usuários pode causar estranhamento?

Na verdade o fórum é um grande espaço de troca de informações, um grande networking, né? Então é óbvio que algumas pessoas que vêm para o fisl ainda têm insegurança de como fazer a migração para o software livre na sua empresa ou tem dúvidas na estratégia, e vai encontrar no fisl um espaço adequado para ter mais segurança, mover uma estratégia de migração, garantir a qualidade que o software livre tem, a privacidade que o software livre garante. Qualquer tipo de mudança de plataforma passa também pela formação do usuário final. Nós não podemos esquecer que na frente da máquina tem um usuário. Então óbvio que vários recursos em uma estratégia de migração têm que focar na formação do usuário final, como qualquer adaptação a novos sistemas informáticos, mesmo privativos. Então acho que o software livre também passa por isso. Ao fazer uma migração em uma grande empresa tu precisas, além de fazer toda a troca dos equipamentos e do software, também pensar na formação do usuário final, que é aquele que vai estar operando esse sistema na ponta.

Ainda no setor empresarial, a crise econômica tem ocasionado queda na receita de várias grandes empresas de tecnologia. Essa situação pode ser cenário de impulso para a popularização dos softwares livres?

Ah, sem dúvidas. O software livre é uma alternativa para a crise, ele utiliza esses conceitos mais modernos de inovação permanente, inovação em rede, então vão ser produtos que têm um cenário de inovação muito superior à indústria do software privativo, em função da dimensão global que esse desenvolvimento estabelece. O custo das licenças é zero. Então também toda a economia em pesquisa de desenvolvimento é muito menor. Então o software livre, não há dúvidas, é uma alternativa para a crise. Acho que não só o software livre, acho que a própria internet é uma alternativa para a crise. Os novos modelos de negócios gerados em torno dos conceitos de liberdade, de distribuição, de inovação aberta, estão aí. No nosso ponto de vista são os modelos adequados para enfrentar a crise e sair dela mais forte ainda.