quarta-feira, julho 27, 2005

Estados Unidos aprovam medida para interferir no sinal da TV Sul




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Emissora apoiada por Venezuela, Argentina, Cuba e Uruguai, começou a transmitir domingo (24). Câmara dos Representantes dos EUA aprovou medida para enviar “sons e imagens especiais” à Venezuela, com o objetivo de “neutralizar” novo canal. No Brasil, TV Educativa do Paraná já transmite parte da programação.

Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior 25/07/2005


Porto Alegre - A mais nova rede de televisão sul-americana começou a funcionar neste domingo (24), já enfrentando pressões por parte do governo dos Estados Unidos. A Telesur (TV Sul), iniciativa do governo venezuelano com apoio dos governos de Cuba, Argentina e Uruguai, já transmite sua programação com uma proposta de oferecer um contra-ponto ao domínio midiático e simbólico exercido pelos grandes meios de comunicação norte-americanos na região. A reação em Washington foi imediata, mesmo antes do início das transmissões. A Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA aprovou, dias atrás, uma emenda que autoriza a transmissão de “imagens e sons especiais” para a Venezuela, com o objetivo de interferir no sinal da Telesur.

A justificativa foi a necessidade de contrapor o “anti-americanismo” do novo canal. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, defendeu o caráter integrador da Telesur e advertiu que o país está pronto para neutralizar os sinais de rádio e televisão enviados desde os EUA para interferir na programação. A medida aprovada na Câmara dos Representantes agora precisa ser votada no Senado.

A iniciativa de tentar interferir na programação da nova televisão partiu do deputado republicano da Flórida, Connie Mack, com o objetivo de permitir ao povo venezuelano “conhecer as idéias de liberdade, segurança e prosperidade por cima da propaganda transmitida pelo governo de Hugo Chávez”. O republicano fez uma menção especial às recentes declarações do líder venezuelano no sentido de construir o “socialismo do século XXI”. Essas declarações, aliadas à proximidade de Chávez com Fidel Castro, protestou Mack, indicam que a “Venezuela pode estar marchando rumo ao comunismo e à perda da imprensa livre”.

O embaixador venezuelano em Washington, Bernardo Alvarez, reagiu imediatamente à decisão, afirmando que ela “reflete uma profunda ignorância sobre o que ocorre com os meios de comunicação na Venezuela”. Ele lembrou que existem 48 canais de televisão aberta na Venezuela, que qualquer pessoa pode assistir. Somente dois canais são públicos. Além disso, lembrou, a população tem acesso a outros 120 canais de quatro continentes, via televisão a cabo. O embaixador venezuelano contestou também as declarações de Connie Mack no sentido de que a liberdade de imprensa na Venezuela estaria ameaçada.

Alvarez lembrou que, além dessa diversidade de veículos de televisão, basta ler as páginas na internet dos jornais venezuelanos. “Se diz tudo o que se quer dizer. Muito mais do que neste país (os EUA) e em qualquer país do mundo”, rebateu. O republicano Mack explicou que o canal que enviaria “sons e imagens especiais” para a Venezuela seria algo similar à TV Martí, a televisão que, desde a Flórida, envia seu sinal à Cuba com informações contrárias ao governo de Fidel Castro. A TV Martí tem um orçamento de US$ 26 milhões anuais. O embaixador venezuelano lamentou que o governo dos EUA pretenda agora repetir essa experiência em seu país, com um custo adicional de milhões de dólares para os contribuintes norte-americanos. E sugeriu que a Casa Branca fizesse um esforço junto aos canais privados de televisão para transmitir o sinal da Voz da América, um sistema já estabelecido.

"Independência sim, neutralidade jamais" Segundo o diretor de programação da TV Sul, o colombiano Jorge Botero, o lema da nova emissora é “independência sim, neutralidade jamais”. Durante a transmissão de lançamento da nova tv, o jornalista Ignácio Ramonet, do jornal Le Monde Diplomatique, destacou que a criação de uma emissora como a Telesur pode ser uma saída para a crise da mídia. A Telesur, disse Ramonet, é importante porque atualmente os meios de comunicação estão em crise e essa crise não está ligada propriamente à ausência de opções, mas sim à existência de um único discurso.

Ramonet é um dos integrantes do Conselho Assessor da Telesur, formado por jornalistas, intelectuais e estudiosos do mundo contemporâneo. Também participam desse conselho os argentinos Adolfo Pérez Esquivel (Prêmio Nobel da Paz), Fernando Pino Solanas, Atilio Borón, Tristán Bauer; os cubanos Silvio Rodríguez e Julio García; os norte-americanos Harry Belafonte, James Early e Saul Iandau; O uruguaio Eduardo Galeano; o nicaragüense Ernesto Cardenal; o boliviano Jorge Sanjinés; os brasileiros Walter Salles, Fernando Morais e Orlando Sena; os mexicanos Pablo González Casanova, María Rojo e Carmen Lira; o paquistanês Tariq Ali; o belga Michel Collon; os colombianos Alfredo Molano e Ramiro Osório; o peruano Javier Corcuera; o venezuelano Luis Britto García; o dominicano Chiquie Vicioso; o italino Gianni Miná e o chileno Manuel Cabieses.

Outro apoiador da iniciativa é o norte-americano Richard Stallman, um dos criadores do software livre. Para ele, se a nova emissora quiser se tornar uma realidade, terá que cumprir dois requisitos: apresentar outras idéias e fazer com elas sejam ouvidas. “A Telesur não pode ser assistida apenas por intelectuais”, defendeu Stallman. Ele comentou a intenção do governo dos EUA de interferir no sinal da emissora e deu uma sugestão. Caso os EUA enviem sinais de rádio e tv para neutralizar o sinal de satélite da Telesur, a emissora deve enviar transmissões de rádio em inglês para dizer aos cidadãos dos EUA as idéias que eles não ouvem nos canais Fox e CNN.

Outro ilustre norte-americano a apoiar a Telesur é o ator Danny Glover. Para ele, a nova emissora tem uma grande possibilidade de integrar os povos da América Latina e suas diferentes realidades, enfrentando o que definiu como “o gigante do norte”. Danny Glover aproveitou a deixa para fazer uma crítica à Telesur, pedindo maior presença de mulheres e negros no conselho assessor.

Apoios e acessos no Brasil No Brasil, por enquanto, não será muito fácil acessar o sinal da TV Sul. A TV Educativa do Paraná é o único veículo, da rede de televisão aberta, que transmitirá parte da programação. Segundo o diretor da emissora, Beto Almeida, a idéia é fazer com que o sinal da TV Sul chegue ao maior número de lares possíveis no Brasil e em toda a América Latina. Para atingir esse objetivo, representantes da televisão estão conversando com operadoras de cabo em vários países e também com tvs comunitárias, universitárias, públicas e regionais.

Para captar o sinal da tv é necessária a instalação de um receptor digital de satélite e uma antena parabólica, com um custo estimado de 950 reais. O sinal da TV Sul poderá ser captado e retransmitido gratuitamente pelo veículo que assim o desejar, adequando os programas às suas respectivas grades de programação. Para quem já tem uma antena parabólica analógica, em qualquer lugar do Brasil, basta sintonizar o canal da TV Educativa do Paraná.

Em diversos estados, comitês regionais de apoio vêm trabalhando para acelerar esse processo de difusão. Neste domingo, o Comitê de Solidariedade com a Revolução Bolivariana do Rio Grande do Sul promoveu um ato simbólico, no plenarinho da Assembléia Legislativa do RS, para assistir à programação da TV Sul através de um canal comunitário da cidade. Além disso, foi realizado um debate para organizar a participação do Estado na rede de comunicadores da emissora. A atividade foi promovida pelas seguintes entidades: ATTAC Porto Alegre, José Martí, Sindicato dos Jornalistas do RS, Núcleo Piratininga de Comunicação, Via Campesina, CUT/RS, Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindserf) e Centro Ecumênico de Capacitação e Assessoria (CECA).

Segundo Carla Ferreira, da ATTAC, a idéia é garantir com que pelo menos um dos noticiários da emissora seja retransmitido pelo canal comunitário de Porto Alegre. Também foi oferecida à TV Educativa do Estado uma parceria nos moldes feitos pela televisão pública do Paraná. Mas, por enquanto, o apoio dado pelo governador Roberto Requião (PMDB) à TV Sul não despertou muito entusiasmo no seu colega de partido, o governador gaúcho Germano Rigotto.

Com informações da Agência Brasil


Fonte: Agência Carta maior


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