quarta-feira, janeiro 18, 2006

Governo Federal reforça aposta em computação grid




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Cerca de um ano atrás, quando a Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão informou suas intenções de conduzir projetos de computação em grid,


a retórica que surgiu ao redor da iniciativa foi principalmente sobre redução da dependência dos fornecedores e corte de despesas relativas aos computadores de grande porte. Acreditava-se que o maior benefício seria minimizar a queda de braço com os fabricantes de mainframes, que tradicionalmente cediam pouco na negociação dos preços dos equipamentos.

Os resultados das iniciativas realizadas desde então, porém, mostram que, além de favorecer a barganha com os fornecedores, o sistema pode também trazer benefícios a outras instâncias públicas a baixo custo, o que deu fôlego ainda maior à tecnologia dentro do governo. A aposta é tamanha que a SLTI pretende elevar em mais de 730% os investimentos em projetos de grid, passando de 600 mil reais no ano passado para algo em torno de cinco milhões de reais em 2005.

A primeira experiência começou em abril com a utilização do sistema que inclui 32 servidores de dois núcleos e software livre baseado em Debian. Adquirida no ano passado por 480 mil reais, a solução de 4,5 terabytes teve como missão testar o poder computacional da estrutura para filtrar a base da Previdência Social, a fim de verificar distorções na lista de cadastros, conforme aponta Rogério Santanna, secretário de Logística e Tecnologia da Informação. "A ferramenta ajudou a mostrar que, para cada óbito registrado no sistema de aposentadorias, existem outros 156 não detectados, o que na prática, faz com que o governo continue pagando aposentadorias para pessoas que já morreram", aponta.

Os números da própria Previdência mostram que o sistema precisa ser realmente robusto para processar o cruzamento dos dados necessário para a detecção das fraudes ou distorções. O órgão pagou em benefícios nada menos do que 100,6 bilhões de reais de janeiro a setembro deste ano, sendo 2,81 milhões de novos benefícios emitidos no período - volume que representa crescimento de quase 60% nos últimos oito anos. De acordo com Santanna, se o Estado conseguir detectar as sobreposições e pagamentos indevidos, economizará milhões de dólares anuais. "Pode-se dizer que a inteligência artificial rodando nesse tipo de processamento demandou grande poder computacional. Os resultados foram satisfatórios e a intenção é reduzir custos nesse tipo de trabalho e desenvolver o uso em governo eletrônico", explica.

Os próximos alvos do sistema de computação grid da SLTI são os programas sociais do governo federal. De acordo com Santanna, a secretaria está testando em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento Social uma solução para integrar os cadastros para eliminar as sobreposições dos beneficiários de serviços como Bolsa Escola e Bolsa Alimentação. Os números dessa área também são graúdos: só em agosto o Bolsa Família pagou nada menos do que 488,1 milhões de reais em todo o País. "O primeiro passo é limpar os cadastros sociais, da mesma maneira do sistema utilizado no teste da Previdência", sinaliza.

Os testes realizados com o sistema de grid, porém, têm exatamente, como o próprio nome diz, caráter experimental. "Este não é um ambiente de produção, mas sim de prototipagem. Criamos propostas de sistemas para ajudar na integração de dados que podem, ou não, funcionar futuramente em cima dessa arquitetura", alerta Corinto Meffe, gerente de Inovação Tecnológica da SLTI. Segundo o executivo, a missão do Ministério do Planejamento é avaliar os sucessos e insucessos do ambiente, já que a eventual implantação fica a cargo de cada órgão. No caso da Previdência, a experiência bem sucedida levará à contratação do software de gestão de qualidade de dados, necessário para a filtragem da base. O pregão para a contratação do programa está previsto para a segunda quinzena de dezembro.

Reduzindo dependências

Olhando pelo ângulo do vínculo com os fabricantes, a Secretaria acredita que conseguirá não só reduzir a dependência de um único fornecedor e de softwares atrelados ao hardware, mas também garantir melhor aproveitamento dos sistemas já adquiridos. Isso porque, segundo Corinto Meffe, atualmente as soluções são pouco flexíveis ou apresentam valores muito altos para viabilizar expansões futuras de capacidade. "Normalmente compramos uma máquina com capacidade 40% ou 50% maior do que precisamos para suportar as necessidades posteriores. Já com o grid, conseguimos expandir a capacidade sempre que for preciso".

As primeiras experiências para ampliação do sistema da SLTI já estão previstas. A intenção é levar, nos próximos meses, alguns módulos a outro prédio do Ministério do Planejamento promovendo a integração do grid entre os edifícios. Pode-se entender que este é um procedimento inicial para criar uma estrutura a ser disseminada para toda a Esplanada dos Ministérios.

Quanto aos benefícios, ganho de desempenho e de disponibilidade do sistema, estão na ponta da língua dos idealizadores da ferramenta. "Estamos trabalhando para poder usufruir dessa infra-estrutura com ganho de processamento, e de disponibilidade, a fim de chegarmos a números que se aproximem de 99,9% de disponibilidade com conectividade adequada", sinaliza. A equipe técnica envolvida no projeto de grid na SLTI é mantida atualmente por quatro pessoas, sob o comando de Meffe.

O Ministério do Planejamento, no entanto, não está trabalhando sozinho nas iniciativas de computação grid. Em parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) e universidades brasileiras, as estratégias estão em reunir casos de sucesso que possam inspirar o desenvolvimento e o avanço da tecnologia na esfera pública. "Com a cooperação técnica do Serpro para a transferência de conhecimento em software livre e também de modelos apresentados por professores de universidades, como a UnB (Universidade de Brasília), vamos reunir conhecimento para fazer o projeto crescer", diz o executivo.

O próprio Serpro, em apoio às iniciativas da SLTI, tem mantido contato com outras instituições de ensino brasileiras, como a Universidade da Paraíba, para aproximar os projetos acadêmicos dos governamentais na área de grid. "Esperamos que a convergência entre novas pesquisas de universidades para grid e também com software livre crie um novo ambiente de governo com recursos computacionais de alta qualidade", informa Deivi Lopes Kuhn, coordenador de migração para software livre do Serpro.

Para o secretário Rogério Santanna, o momento é de estabelecer a infra-estrutura de grid em diferentes ministérios e fazê-la colaborar entre si. "Acredito que entre três e cinco anos poderemos dominar este processo", aponta. Resta saber, se, com a eleição presidencial de 2006 e as possíveis mudanças nas equipes de TI dos ministérios, os projetos de computação grid terão fôlego para crescer no compasso estimado.

Enquanto isso, lá fora...

Enquanto a maioria dos projetos de computação grid está na fase experimental sobre como e onde ser utilizado no governo federal brasileiro, outros países como os Estados Unidos já apresentam estratégias claras sobre a implantação da tecnologia.

No Estado de Nova York, por exemplo, o governo local está investindo 500 mil dólares na criação de um sistema grid com 3 terabytes para realizar backups destinados às pequenas e médias empresas. A intenção é fazer com que o sistema recupere informações perdidas em caso de tragédias. De acordo com o porta-voz do Departamento de Ciência e Tecnologia local, Jim Denn, explorar o potencial do grid e da computação colaborativa passou a ter sentido após os atentados de 11 de setembro.

Já na região da Virgínia, o projeto de grid tem a intenção exata de permitir às empresas locais maior poder computacional, enquanto que em Cleveland, autoridades estão estudando a possibilidade de desenvolver grids de múltiplos dados para interligar serviços de saúde, escolas e agências municipais. Da mesma maneira como no Brasil, a parceria com universidades e instituições de pesquisa têm tido papel essencial no desenvolvimento das soluções.

(*) Segunda-feira, 19 dezembro de 2005 - 16:04

Camila Fusco, do COMPUTERWORLD


Fonte: Computerworld



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