Artigo publicado na revista TEMA — ANO XXXVIII • No 217 • MARÇO/ABRIL • 2013

INTRODUÇÃO

A internet vem criando os meios para a realização de grandes transformações na sociedade. Uma das mudanças mais importantes é trazida pelas redes sociais, fenômeno que promove a transição de uma cultura de controle mais fechada e vertical para uma outra cultura mais aberta e horizontal.

Certamente, essa transição cultural também afeta o cotidiano das empresas, que não são ilhas desconectadas de outros contextos sociais. A migração das suas estruturas verticais para estruturas horizontais é um futuro inevitável. Futuro que deve ser encarado com a noção de que, quanto mais tempo as organizações dispenderem nesse processo de transição, maior será o risco para a operação e menores serão as oportunidades aproveitadas.

As empresas precisam enxergar a organização como uma grande rede social, com problemas de eficiência para inovar e se adaptar diante da velocidade e complexidade das mudanças do novo século. Devem compreender que a criação de um ambiente de circulação de ideias fará a organização, obrigatoriamente, rever seus princípios continuamente, além de ampliar o diálogo sincero e honesto com os diferentes stakeholders a partir de uma mudança cultural induzida pela tecnologia cognitiva, que altera a nossa forma de pensar e agir.

Essa grande rede social empresarial, também conhecida como rede social corporativa é um ambiente “[…] de produção de ideias, processos, produtos e serviços, através da implantação de plataformas colaborativas, que são ambientes internos e externos criados por tecnologias cognitivas disruptivas/desintermediadoras, que introduzem uma nova e completa mente diferente cultura de controle digital.” (NEPOMUCENO)

Quanto antes as empresas se apropriarem dessas tecnologias, construindo a sua própria rede corporativa e tornando-a parte do seu dia a dia, mais rapidamente será a transição dessa organização em uma “empresa 2.0”, ou seja, uma instituição adequada ao seu tempo. Certamente, essa adequação não se dará por mero modismo, mas sim pelos ganhos materiais e imateriais advindos dessa mudança cultural, que possibilitará ganhos de produtividade em toda a cadeia corporativa e, em alguns casos, até mesmo a própria sobrevivência da empresa. Afinal de contas, nos dias de hoje, lidamos com problemas cada vez mais complexos, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, com um tempo cada vez mais escasso. Portanto, a horizontalização das empresas surge de modo imperativo para a própria manutenibilidade da sua operação.

No tocante à apropriação desse ambiente tecnológico e cultural por parte do Serpro, pode-­se observar que a empresa já realiza ações, ainda que timidamente, no sentido de promover a integração e a construção de uma rede de relacionamento corporativo entre os seus empregados. Há também empregados que gostariam de participar mais do dia a dia da empresa, mas não sabem como, ou quando tentam, encontram algo demorado e podem acabar por desistir. Essas duas pontas precisam se conectar, e o local propício para essa conexão é a criação de uma rede social corporativa.

#voce.serpro - página inicial
A página inicial do sistema agrega todo o conteúdo produzido na rede

A PLATAFORMA TECNOLÓGICA

A proposta de rede social corporativa do Serpro, #você.serpro, construída sobre a plataforma Noosfero, possui um foco na produção e publicação de conteúdo textual e multimídia, para tornar-­se um ambiente de troca de experiência entre todos os empregados da organização.

O Noosfero foi construído utilizando o framework Ruby on Rails e pode ser colocado em produção utilizando qualquer servidor Linux rodando PostgreSQL, Apache e um servidor de aplicação para a linguagem Ruby como o Mongrel, Passenger, Thin, etc.

Todas as funcionalidades comumente observadas nas redes sociais, como criação de blogs, galeria de imagens, fóruns, atividade da rede de relacionamento e mural de recados, estão presentes atualmente na ferramenta Noosfero. Entretanto, o diferencial é o domínio da tecnologia que o Serpro poderá ter e sua forma de utilização, de modo que essa seja a mola propulsora da transformação da empresa do modelo 1.0 para o modelo 2.0.

IMPACTOS ESPERADOS

1­ Na gestão da informação

A gestão da informação 2.0 necessita da coparticipação de todos os stakeholders da empresa, uma vez que o volume de dados que é produzido atualmente impossibilita qualquer tipo de validação prévia das publicações. A qualidade do conteúdo gerado também deve ser garantida pelos próprios stakeholders, ou seja, a própria rede deve controlar o que deve permanecer nela, ou não. Ela própria também garantirá o que é um conteúdo de qualidade.

Esse potencial da rede deve ser aproveitado pelo Serpro, visando sempre eliminar processos de intermediação desnecessários e buscando ampliar a interação entre todos os integrantes. Modificações nos processos corporativos, por exemplo, podem ser “experimentadas” imediatamente na rede, onde os próprios empregados poderiam participar do processo de criação, o que possibilitaria a construção de processos muito mais maduros e adequados às necessidades da empresa.

#voce.serpro - atividades da rede
Com a rede é possível rastrear todas as ações realizadas por seus contatos

2­ Na comunicação

Atualmente, o Serpro possui profissionais extremamente qualificados em determinadas tecnologias e, ao mesmo tempo, outros profissionais que as desconhecem por completo. A rede #você.serpro permitirá que qualquer empregado da empresa possa encontrar especialistas em determinados assuntos e interagir diretamente, para a solução de um determinado problema, via mensageiro instantâneo, evitando assim uma grande quantidade de barreiras para a obtenção de suporte corporativo.

3­ Na capacitação

Os profissionais especializados do Serpro poderão criar grupos de abrangência nacional para realizar troca de experiências, aumentando ainda mais o nível de qualificação profissional de toda a empresa, tornando o processo de capacitação um fato contínuo e permanente.

#voce.serpro - Busca
A página de busca permite ao usuário procurar amigos, comunidades e conteúdo a partir de palavras­-chave

4­ Na inovação

Quando as comunidades existentes na rede se derem conta do que podem fazer juntas on­-line, elas irão muito além de apenas resolver problemas. Elas passarão a criar e inventar juntas. A pluralidade de ideias, de experiências e de culturas contribuirá para a busca de soluções criativas e conjuntas de problemas comuns. Nesse momento, estaremos dando os primeiros passos na construção e/ou solidificação de um modelo onde a inovação será a base das soluções da empresa.

5­ Na motivação dos empregados

Do ponto de vista dos empregados, é esperado que a existência de uma rede onde seja possível se expressar livremente e contribuir no processo de mudança da empresa, propicie um ambiente em que as pessoas se sintam mais felizes e satisfeitas com o trabalho que realizam. Obviamente, este é o resultado “utópico” almejado. Entretanto, a partir da criação dessa semente de empresa 2.0, será possível aglutinar as pessoas que hoje já se sentem motivadas a participar do processo de transição do Serpro de uma empresa 1.0 para uma 2.0, e serão estas pessoas ­ agora trabalhando juntas ­ com um objetivo bem claro de transformação cultural, os responsáveis por reunir cada vez mais colaboradores para esta transformação.

CONCLUSÃO

Por fim, uma rede social corporativa é um canal muito mais barato para a criação coletiva e, quando bem aproveitado, é capaz de mudar rapidamente processos que antes pareciam impossíveis de serem alterados. É preciso levar em consideração que a implantação de uma rede social corporativa é um projeto que pressupõe uma tecnologia. Mas isso é apenas o primeiro passo. O sucesso da rede também depende da consciência de que é necessária a transformação de toda a estrutura da empresa.

Transformação que implica modificar o tempo em que as decisões são tomadas, a participação nas tomadas das decisões, a eliminação de intermediações desnecessárias, entre outras ações.

O resultado de sucesso almejado na construção da rede #você.serpro só dependerá do esforço que cada um fará para que a rede se torne pujante. Afinal de contas, a rede virtual nada mais será do que o reflexo da "rede real" que é a própria empresa.

AUTOR

Leandro Nunes dos Santos
Formado em Ciência da Computação pela Universidade Federal da Bahia, atualmente trabalha no Serpro como analista de sistemas. É atuante nas comunidades de software livre e en­ tusiasta da tecnologia Ruby on Rails.