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Há uma divisão inteira de negócios da Intel no Brasil, dentro da CSO (Channel Software Operation), dedicada a apoiar o desenvolvimento do ecossistema Linux no país. São diversas ações, a maioria no mecado de desktop, "porque a Intel acredita que a melhor maneira do mercado Linux se desenvolver virá pelo desktop", afirmou Ricardo Franco, funcionário da gigante dos computadores.
"Nós já reconhecemos o Linux como o segundo sistema operacional mais usado entre os notebooks com placas e chips Intel", diz ele. Entre as empresas apoiadas pela Intel aqui no Brasil estão a Itautec e a Metasys, do grupo mineiro International Syst.
Bruno Lessa, da Fábrica Digital, discordou, em parte, com a visão na Intel. Na sua opinião, a inovação na área de software livre realmete passa pelo mercado de desktop. "Ainda é um mercado virgem a ser explorado. E evangelização custa caro. Se a Intel quer ajudar, ótimo. Eu não recomendaria a uma pequena empresa começar qualquer negócio baseado em software livre pelo mercado desktop, embora concorde que ele crescerá muito", disse Bruno. "Para a pequena empresa, o mais recomendável é tuar no mercado servidor, já maduro".
Fernando Nery, da Módulo Security, que também participou do painel sobre prioridades e estratégias de negócios foi mais radical. "Não vejo sustentabilidade em um modelo de negócio Linux baseado no desktop", afirmou ele. "Acho que é possível usar Linux no desktop. Mas não é uma realidade e não é uma oportunidade de mercado. Eu nunca orientaria um novo desenvolvedor, uma nova empresa dentro de uma incubadora, a desenvolver software para desktop Linux. Não tem viabilidade econômica. Olha a Conectiva. Olho a indústria, e não vejo...", disse Fernando.
Para Fernando Nery, todo esforço do governo em incentivar o uso do Linux no desktop faz parte de uma decisão estratégica, e tem ajudado a fomentar a discussão sobre uma opção tecnológica feita pelo governo. "O problema é que enquanto nós aqui fizemos a opção tecnológica pelo software livre, a China focou na TV Digital, estratégica para todos nós, e começará a colher os frutos em pouquíssimo tempo. A Índia focou no IPV6 e, quando este for de fato o padrão da Internet, suas empresas estarão em condição privilegiada para vender no mercado globalizado", completou Fernando. "O governo brasileiro hoje não tem feito o básico, que é comprar software. Brasileiro, estrangeiro, nenhum. Não tem contratado nada, desenvolvido nada", disse.
"Não sou contra o uso do software livre. Sou um entusiasta do desenvolvimento de software", garantiu Fernando. "Mas sou contra o radicalismo no Software Livre, uma vez que o ambiente está cada vez mais heterogêneo", afirmou.
John Forman, presidente da Assespro do Rio de Janeiro e moderador do painel, colocou mais pimenta na discussão. "Concordo com o Fernando quando ele diz que parte da situção que enfrantamos hoje se deve à radicalização do discurso de que software livre é software gratuito e que ninguém deve pagar por ele", disse.
"Temos que olhar para este modelo de negócio e saber como trabalhar com ele. Eu duvido que a Intel, algum dia, vá ter lá um Pentium livre, porque não faz o menor sentido", argumentou Forman. "A gente tem que pensar o fortalecimento da indústria do software brasileiro, pensando como é que, em cima da plataforma de componentes livres, criaremos negócios. O software livre está aí, e está mudando paradigmas. Nosso desafio é encontrar o nosso caminho neste cenário", disse Forman.
Ricardo Franco, da Intel, procurou explicar melhor o posicionamento da empresa. "Assim como o Fernando, a gente também acha que a radicalização não leva a nada. E não temos a pretensão de dizer que o modelo que estamos propondo se aplica a tudo. Mas para alguns nichos, segmentos de mercado, pode ser um modelo de negócio viável sim. O de pequenas e médias empresas, por exemplo, na área de serviços, customização de plataformas abertas para área de varejo, callcenters", disse ele. "E estamos sentindo a falta de uma outra figura neste mercado: a das associações ou empresas que trabalhem modelos de uso do software livre", disse ele.
No fim do ano passado a Intel Brasil criou o Open Source Software Laboratory (OSS Lab), em São Paulo, para testar e validar soluções baseadas em software de código aberto para os sistemas baseados em seus chips. Este laboratório testou todos os sistemas operacionais livres que rodarão nos micros fabricados no país para o programa "Computador para Todos" que usem componentes Intel. "Queremos ficar muito próximos dos desenvolvedores de software livre porque sáo eles os primeiros a aproveitar as inovações tecnológicas que colocamos no hardware. Tem duas inovações tecnológicas que estão chegando nos processadores agora, a virtualização e a capacidade de gerenciamento remoto, que já estão nas distribuições Linux que usamos aqui no Brasil e ainda levarão algum tempo para estarem disponíveis nos softwares proprietários", explicou Franco.
E em resposta à provocação do presidente da Assespro do Rio, Jonh Forman, Ricardo Franco comentou que nunca ouviu falar no conceito de processador livre, e provavelmente nunca ouvirá. "Mas a Intel está no grupo de Free Bios. A bios é a interface entre o sistema opperacional e as aplicações com o hardware. Só existem dois fabricantes de bios no mundo. Quando os fabricantes vão integrar sistemas precisam pagar royalties para essas duas empresas. Então estamos no grupo que está discutindo o desenvolvimento de uma bios de software aberto para garantir o acesso a todos os dispositivos de baixo nível", explicou Franco.
"Vocês podem ter certeza: onde fizer sentido, vocês vão ver a Intel apoiando software livre", garantiu Franco.
Fonte: O Dia
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