Trupe d’o Teatro Mágico escreve mais um capítulo na história da música livreApril 26, 2010, by Luis Henrique Silveira - No comments yetViewed 151 timesDia 24 de abril, sábado foi o dia em que a trupe do Teatro Mágico abriu mais portas para aos temas que vem se dedicando para realizar debates e reflexões, expresso ao longo dos seus 6 anos de existência.
O fato do convite feito pelo diretor Jayme Monjardim (a quem agradecemos) ao Teatro Mágico para participar da novela das 8 da globo, gerou um grande debate entre a trupe e o público que expressam democraticamente seus pontos de vista.
Visivelmente a maioria do público foi favorável a participação, mas tivemos manifestações contrárias, o que consideramos saudável. Nas duas percepções tivemos livre expressão com argumentos, algumas nem tanto, e muitas posições sem qualquer tentativa de justificativa sobre o entendimento.
Um exemplo, foi o texto de Gustavo Anitelli no site da trupe, que justifica bem a opinião da trupe e desencadeou debates que até o momento da publicação desse texto, somavam 78 comentários os quais 3.248 pessoas acessaram via twitter.
Outro dado é que nós no dia 24/04 entre 20h40min e 0h, a tag #TMnaNovela, ficou no Top1 do twitter Brasil, como mostram as imagens abaixo.
A opção de participar da novela, criou o fato que fortaleceu o debate sobre a comunicação no Brasil, e por isso, a ação justifica-se como um grande feito e uma grande atitude. Essa foi mais uma demonstração de nossa prática constante em buscar refletir coletivamente com o público, de forma fraterna e transparente, e assim queremos continuar construindo nossa história.
A nossa busca pela participação direta das pessoas, a partir de agora ganha maior dimensão, e nossa responsabilidade aumenta, porque todas as atitudes tomadas até o momento, nesses 6 anos e meio de caminhada colocaram o Teatro Mágico em evidência. Tudo que está acontecendo agora com o Teatro Mágico não é por acaso, e sim resultado de muito trabalho de pessoas engajadas e com visão de mundo. E são muitas.
A iniciativa de coletivamente com diversos produtores(as), bandas, e ativistas dos movimentos sociais na criação do movimento música para baixar gerou conflitos aos quais estivemos sujeitos a receber as seguintes declarações: “Quem permite baixar suas músicas são estúpidos, e os que baixam são pessoas sem cultura”, como exemplo disso temos o empresário Rick Bonadio e até do vocalista do Mundo Livre Sa, Fred Zero4, que nós inclusive gostaríamos que revisse sua posição pela história do movimento mangue beat.
O Movimento Música para Baixar, um trocadilho intencional de Música Popular Brasileira, traz novos valores e novas práticas para a MPB, e já podemos dizer que somos a nova MPB. Nós estamos trazendo como conceito e prática, o conhecimento livre, a inspiração copiada do movimento software livre.
Por isso, nós defendemos e jogamos aos 4 ventos, que queremos a criminalização do Jabá, a flexibilização do direito autoral, e não vamos aceitar qualquer tentativa de controlar a internet, nesse sentido o projeto marco civil da internet é fundamental para a música livre. Além disso, nós estamos envolvidos na defesa de pautas ambientais.
O fato de participar da novela das 8 na globo, não irá apagar nosso entendimento, de que, existe sim monopólio evidenciado no sistema brasileiro de comunicações, e que se faz mau uso da mídia de massas e nem a TV ou rádio cumprem seu papel de informar a população com a devida diversidade de pensamentos e respeito, porque simplesmente tem donos.
A televisão e o rádio são concessões pública, e deveriam mostrar mais o que existe na cultura e arte brasileiras. É fato que a mídia está voltada apenas para o comércio e, portanto, o serviço e comprometimento social não existem. O que existe é a busca insana pelo lucro, e nós temos isso bem nítido.
Sabemos que esse assunto é delicado, que merece cautela e o debate de participar ou não é bastante relevante, e em qualquer debate é fundamental existir diferentes visões, justamente porque hoje a maioria dos artistas ao acessarem espaço na mídia de massas, são facilmente cooptados pelo desejo da fama, que se calam para serem facilmente aceitos, e ainda precisam pagar jabá ou transformam sua música em mera mercadoria da indústria cultural que sustenta e retroalimenta os proprietários dos veículos de comunicação.
Essa cooptação significa uma grande possibilidade para quem não tem consciência política, não assumiu tarefas sociais e não faz o debate sobre temas relevantes. Entretanto, o Teatro Mágico tem compromissos assumidos coletivamente com a democratização e o livre acesso aos meios de comunicação, sendo essa possibilidade remota, para não afirmar inexistente.
Confesso que anteriormente sentia falta do exemplo de arte de contestação de Renato Russo e Cazuza, contrários a ideia de fazer arte pela arte, como temos visto por ai, como se a arte não fosse construída a partir do meio social onde o(a) criador(a) vive, fragmentando e distanciando política e arte, impedindo qualquer artista de se posicionar sobre pautas da sociedade na qual está inserido.
A falta de inquietações e provocações me força a relembrar e sentir saudades de: “Pois aquele garoto. Que ia mudar o mundo. Mudar o mundo. Agora assiste a tudo Em cima do muro. Em cima do muro…Ideologia! Eu quero uma prá viver. Ideologia! Prá viver…” Ideologia de Cazuza e Frejat ou “Mas o Brasil vai ficar rico. Vamos faturar um milhão. Quando vendermos todas as almas. Dos nossos índios num leilão. Que país é esse? …” Que País é Este – Renato Russo
Agora tenho a oportunidade de conviver com: “O valor é temporário, o amor imaginário, a festa e o perjúrio. O minuto de silêncio é o minuto reservado de murmúrio, de anestesia. O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia. Com a narrativa …” “… Na tua tela, Quer ensinar fazer comida uma nação que não tem ovo na panela. Que não tem gesto, Quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto!” Xanéu nº5 – Fernando Anitelli ou “Pelos palanques políticos prometem prometem. Pura palhaçada.
Proveito próprio. Praias programas piscinas palmas. Pra periferia. Pânico pólvora pa pa pa. Primeira página. Preço pago. Pescoço peitos pulmões perfurados. Parece pouco…” “Pedimos principalmente paixão pela pátria prostituída pelos portugueses. Prevenimos! Posição parcial poderá provocar protesto paralisações piquetes pressão popular. Preocupados?…” Brasil com P do Poeta GOG.
Sim, nós precisamos de mais espaço, atitude, contestação e capacidade crítica de indignação e isso deve ser prática do nosso dia-a-dia, na internet, nos palcos, nos debates, nas entrevistas, na TV e no rádio, porque, dessa maneira podemos libertar nossas amarras… Nós não podemos ter medo de apresentar o que pensamos em qualquer que seja o lugar… Nós não temos medo de errar… Se cometemos erros devemos corrigir. Se não sabemos consertar, então, não sabemos construir. Para mudar o mundo é preciso experimentar as suas diversas nuances e possibilidades.
Se nós defendemos a democratização da comunicação, como podemos recusar convites? Se a mídia sabe como nos usar, então, devemos aprender a usar a mídia a nosso favor. Sempre com moderação e ponderação. Se nos oferecem espaço, devemos acessar com sabedoria e responsabilidade. Recusar pode ser omissão.
Por Everton Rodrigues – Membro do Blog Brasil Autogestionário e artivista do Movimento Música para Baixar
Fonte Blog Brasil Autogestionário
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