Surgem a cada dia novos alarmes de firmas de segurança e de publicações especializadas falando sobre um novo vírus para o sistema Android, um novo app malicioso, uma nova ameaça qualquer. Bom, isso não é incomum: na era de máquinas conectadas e do acúmulo de funções que muitas vezes envolvem dinheiro, é bem natural que alguém procure brechas e se aproveite dos mais incautos. É assim no Windows, no Android, em qualquer sistema, mas também no mundo analógico: deixe a porta de sua casa aberta ou sua carteira no banco da praça que coisas similares acontecem.

E a similaridade "mundo digital/analógico" não está só no problema, mas também nas dicas de solução, só que aqui a questão pode ter implicações mais sérias. Um fato sobre a história humana é que ela tem a habilidade de se repetir. Já alternamos vários períodos de liberdade individual e da falta dela, e o chamariz para uma era de mais imposição vem muitas vezes do clamor das próprias pessoas por alguém que garanta a sua segurança em troca de cada vez menos direitos individuais. Censura e regras cada vez mais rígidas do que é aceitável ou não começam a aparecer nesses períodos e vão tomando a sociedade até um ponto de ruptura e daí... bom, é história.

Voltando à questão da segurança no sistema Android, que tal olhar com um pouco mais de cuidado as dicas dos especialistas? Uma comum: nunca instale software que não venha da loja Play - há até mesmo uma configuração nos aparelhos que faz isso de forma simples, impedindo o próprio dono de fugir do cercadinho do Google. O que, na verdade, acontece quando você faz isso? Você entrega para uma empresa o poder de censura sobre o que entra ou não no seu aparelho. Outra comum, que especialistas evitam dizer mas que "pessoas comuns" muitas vezes têm na ponta da língua: mude para um iPhone/iPad, que é mais seguro. De novo, a mesma questão: ao invés do Google você deu à Apple o direito de escolher o que você pode ou não acessar.

Essa é uma questão recorrente da história humana, mas agora com um viés diferente. Antes, em troca de uma segurança muitas vezes questionável, as pessoas entregavam cada vez mais aos seus governos o direito de determinar como elas viviam. Agora, na época do nosso "capitalismo-mais-que-tardio", são às empresas privadas que recorremos e damos o direito de dizer o que podemos ou não fazer...