Por que Tantas Distribuições Linux? Parte 1March 1, 2010, by Luis Henrique Silveira - No comments yetViewed 127 timesSabemos que esse assunto é altamente polêmico, além de um verdadeiro (e mortal) campo minado para qualquer incauto que se atreva a meter o dedo. Temos tantos defensores quanto carrascos para esse assunto tão espinhoso. Pode piorar? Pode! E vou mostrar como. Nesta nova série de artigos atacarei ambos os lados desse "debate", sem nenhuma pena ou ressentimento.
Qualquer usuário Linux que esteja nesse mundo há pelo menos alguns anos, já deve ter se perguntado: "Por que tantas distribuições Linux?". Outros mais atentos ainda conseguem perceber algo mais: que a quantidade de distribuições Linux existente é altamente rotativa. Percebemos que a cada dia nascem e morrem muitas distribuições. E se eu pudesse fazer uma analogia bem careta, diria que estas parecem estatísticas dos livros antigos de geografia que apontam essa peculiaridade como uma característica de país sub-desenvolvido de terceiro mundo: alta taxa de natalidade, aliada e alta taxa de mortalidade. São dezenas de distribuições Linux nascendo e morrendo todos os dias! Vamos então começar nosso julgamento. No final vocês tirem suas próprias conclusões e retornem suas opiniões (e pedras para atirar contra o autor desse post, é claro) nos comentários. Não espero nada menos que um debate acirrado.
Defendendo as Distribuições
Já que atacarei ambos os lados, vou começar primeiro pela defesa do número de distribuições Linux. Principalmente para que seja possível expor minhas opiniões de forma coerente e encadeada. Podemos considerar essa grande variedade de opções como uma benção - um verdadeiro reforço nesta queda-de-braço. Além de ser gratuito, estável e customizável, temos também a opção de escolher a distribuição Linux que mais nos agrada, e que melhor atende às nossas necessidades. Vivo dizendo isso há anos: "Distribuição Linux é que nem sorvete. Sempre tem um sabor que você mais gosta!"
Sim! São muitas distribuições. O total (do que é passível de contabilidade atualmente) aponta para uma rotatividade em torno de 400 distribuições Linux "em atividade". Você vai encontrar várias distribuições voltadas para uso empresarial, uso acadêmico, para uso exclusivo de seu computador como um sistema multimídia, ou até mesmo para a criação de uma central de jogos. E quando eu exponho as opções, não estou dizendo que existe apenas uma distro para cada área não. Existem dezenas de distribuições focalizadas em um mesmo objetivo. Número grande de distribuições, não concorda? Aposto que você também está bastante incomodado por saber que existem várias distribuições Linux "diferentes" tentando atender a um mesmo público.
Acha exagero? Sei que muitos vão responder "Sim", e ainda vão emendar que a grande quantidade de Distribuições Linux é um fator que enfraquece o próprio Linux como sistema operacional, e o mundo do Software Livre e de Código Aberto (SL/CA). Os mesmos ainda afirmam que esse "exagero" de distribuições é tudo o que a Microsoft precisa para dominar o mundo (e muitas outras mais "teorias da conspiração" que aparecem nos cantos mais remotos da Internet).
Vamos entender uma coisa: o desenvolvimento de um software nunca é um caminho único a se seguir. Nunca podemos dizer que determinada linha de desenvolvimento é a melhor, se não existirem outras linhas seguindo seus próprios caminhos, tentando alcançar o mesmo "objetivo comum", para que possamos comparar. E isso vale tanto para um software de calculadora, quanto para um sistema operacional completo (incluso o kernel, daemons, aplicativos, camadas gráficas, etc). É preciso que exista mais de uma opção, para que se possa afirmar suas diferenças, suas virtudes, e seus defeitos.
Sabemos que o kernel Linux é único. E ao longo de todos esses anos, o mesmo tem sido incansavelmente construído por um batalhão de desenvolvedores espalhados por todo o mundo. E o kernel Linux possui uma "meta": ser cada vez mais compatível com qualquer tipo de hardware. Quem sabe em um futuro não muito distante, teremos um kernel Linux que possa ser instalado, sem modificações, e qualquer tipo de hardware, seja ele um gadget como um smartphone, sua própria geladeira, ou mesmo seu computador pessoal.
Se tudo terminasse por aqui mesmo, não haveria mais motivo para discussões. Afinal todas as distribuições Linux possuem o kernel em seu núcleo. Porém, para melhor se adequar as suas linhas de desenvolvimento, e seus direcionamentos no que se refere as suas funcionalidades e seu foco, as distribuições Linux modificam dentro e fora, em vários graus, o kernel Linux. Para melhor atender as suas necessidades e diretrizes, as distribuições Linux impõem mudanças significativas no kernel. É basicamente como uma personalização.
O Linux como distribuição, muito se assemelha a uma cebola, feita de cascas concêntricas de código. O kernel Linux é o seu núcelo, e vai sendo recobrido com camadas de daemons, bibliotecas, compiladores, shells, aplicativos, e interfaces gráficas das mais variadas. E tudo isso funciona, e bem! E não importa quantas distribuições Linux existam, todas são 100% "compatíveis" entre si.
Diferenças Marcantes
Existem diferenças? Sim! Cada distribuição exibe uma miríade de combinações, não somente de aplicativos, mas de versões dos mesmos. Mas nem por isso se perde a compatibilidade entre elas. Se fossemos ao extremo na comparação entre elas, poderíamos chegar até onde residem todos os supostos problemas do Linux: programa de instalação, tipos de pacote (quando possuem), gerenciadores de pacotes (quando possuem), interfaces gráficas (quando possuem), e por fim, painel de controle gráfico da distribuição (quando possuem).
Como você pode ter notado, dos cinco pontos controversos do Linux, apenas um deles é lugar comum na maioria esmagadora das distribuições: o programa de instalação. Mas mesmo assim, com diferenças marcantes de usabilidade para todos os tipos de público em nível de conhecimento. E tenho que concordar com uma coisa. São poucas as distribuições Linux que realemnte de preocupam em criar um sistema de instalação que alie facilidade a usabilidade. Um programa de instalação deve permitir sempre que o mais novato dos usuários possa instalar uma distribuição Linux sem ter quase nenhum conhecimento. E ao mesmo tempo, ser configurável ao extremo para os usuários mais avançados. Mas mesmo que os instaladores das distribuições Linux deixem muito a desejar, sabemos que boa parte dos usuários Windows não conseguem instalar seu sistema operacional preferido, e sempre pedem ajuda.
Quanto aos outro quatro pontos, a discussão também se divide entre usuários avançados e iniciantes. Sabemos que todos os outros pontos podem ser considerados supérfluos por alguns usuários Linux avançados. Porém, já foi o tempo em que a maioria esmagadora dos usuários Linux eram hackers. Hoje em dia, a maioria dos usuários Linux é usuário doméstico de computador, o que significa que dependem de um sistema gráfico, integrado e de fácil utilização em seu dia-a-dia. E antes que vocês lancem a segunda onda de meteoros digitais contra o autor desse post, quero deixar bem claro que isso não é um fator negativo (mas também não podemos afirmar que seja positivo).
Uma das metas do Linux sempre foi a de ocupar um lugar de destaque nos desktops de toda a população do planeta, sendo uma alternativa gratuita, estável, robusta, segura, e livre, ao sistema operacional da Microsoft - o Windows. E como todos os versos, seja ele micro-versos ou macro-versos, a maioria esmagadora dos sistemas digitais será sempre composta de usuários finais, com muito pouco conhecimento sobre o sistema operacional, ou mesmo seus programas gráficos de uso diário. E se atualmente a maioria dos usuários Linux é usuário final, podemos dizer que estamos indo no "caminho certo".
Mas e as diferenças entre os outros quatro itens citados? O Linux é um constante trabalho em evolução. E por esse motivo, não podemos forçá-lo a seguir apenas um caminho para cada um desses itens. Principalmente porque todos eles possuem virtudes e fraquezas. Nenhum deles é perfeito. E enquanto esse cenário continuar, não será possível dizer quem é o melhor entre eles. Outra vantagem de se ter várias distribuições Linux diferentes, em todos os graus e composições, está na possibilidade de sempre poder copiar o que cada uma tem de melhor, para melhorar outra distribuição. E esse processo sempre aconteceu, desde que o Linux era apenas um punhado de distribuições diferentes. E se naquela época, onde o Linux não tinha nem um milésimo da atual força que tem hoje, ninguém conseguiu validar esse argumento de muitas distribuições, porque o fazer agora?
Inovação
Lembrem-se também que a multiplicidade de distribuições Linux favorece a inovação. Ter muitas distribuições Linux seguindo caminhos diferentes (em vários graus de aplicações e desenvolvimentos) para alcançarem um mesmo objetivo, favorecem a inovação. Também sei que muitos criticam a aplicação e uso do termo "reinvenção da roda". Muitos são os que comentam que reinventar a roda é o famoso "mais do mesmo", ou que é "perda de tempo". Mas garanto uma coisa: a humanidade só chegou aonde se encontra agora (para o bem ou para o mal) porque sempre "reinventou a roda". Em várias áreas do conhecimento, foi a "reinvenção da roda" que possibilitou a inovação.
E no caso das distribuições Linux, vemos isso como um fator a mais para a proteção e a evolução deste sistema operacional. Por ser livre e de código aberto, qualquer pessoa colm um computador em qualquer parte do mundo poderá contribuir para o seu desenvolvimento, da maneira que bem entender. E sem fugir a regra, no Linux, as melhorias e avanços em seu código (desde o kernel até a sua IDE favorita) surgiram a partir desses princípios; Foi através da busca por caminhos alternativos e a constante "reinvenção da roda", que nos permitiu ter o sistema operacional Linux do jeito que ele é hoje: robusto, estável, seguro, e com uma miríade de funcionalidade e aplicabilidade para todas as áreas do conhecimento.
Liberdade
E agora vamos ao ponto principal dessa discussão. Uma coisa que quero lembrar a todos vocês, é que o Linux não é apenas gratuito. Quando você instala o Linux em seu computador, você ganha algo mais que gratuidade - você ganha liberdade. A liberdade é o mote, o verdadeiro poder deste sistema operacional amado por todos os nerds (e atualmente os não nerds).
A liberdade é o ponto-chave do mundo Linux. É a liberdade de ter acesso ao código-fonte. A liberdade de poder modificá-lo como bem entender, e também a liberdade de distribuir de forma livre e aberta todo o seu trabalho. Com a Liberdade, você permite que todos a sua volta tenham acesso ao seu código, e possam modificá-lo como desejarem, mantendo esse interminável ciclo. E se você separa a Liberdade do Linux, você não terá mais o Linux. E isso é muito pior do que você está pensando: sem sua liberdade o Linux não sobrevive! Por isso, sempre que vocês virem uma nova distribuição Linux "nascendo", não torçam o nariz, e lembrem-se do que faz o Linux ser forte. E tirem essa idéia da cabeça, de que "a missão do Linux na Terra" é "vencer a Microsoft", e "dominar o mundo". Errado! A missão do Linux é (sendo o mais repetitivo posível) trazer Liberdade (principalmente de escolha) para qualquer um que a queira.
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