Trabalho foi encomendado pelo Museu de Estudos da Universidade de Pádua ao escritório Arc-Team e terá Cícero Moraes na reconstrução facial do Santo
 
 
O brasileiro Cícero Moraes vai reconstruir o rosto de Santo Antônio e entregar a imagem em 3D ao Museu de Estudos da Universidade de Pádua em novembro deste ano para uma exposição aberta ao público. O projeto Il Volto di Sant'Antonio foi encomendado ao grupo de pesquisas Arc-Team, da Itália, que tem a colaboração de Moraes. O trabalho será todo feito usando software livre.   
 
Casamenteiro, como Santo Antônio é conhecido no Brasil, sua imagem guarda um homem que viveu intensamente a sua fé. Quando morreu por volta dos 40 anos, deixou um legado como professor universitário na Itália, Portugal e na França, além de viajar o mundo motivado pela distribuição do conhecimento e ajuda aos pobres. Nasceu em Lisboa, tendo como nome de batismo, Fernando Martins de Bulhões. Depois, como membro da ordem franciscana, ligada a igreja católica, mudou seu nome para Antônio. Provavelmente veio ao mundo entre 1191 e 1195 e morreu em 13 de junho (Dia de Santo Antônio) de 1231 a caminho da cidade de Pádua, na Itália.
 
A imagem atual de Santo Antônio apresenta um rosto com traços finos e delicados. Essa feição conhecida por fieis no mundo todo representa um desafio para a equipe de reconstrução, pois provavelmente ele foi um homem com características mais rústicas, segundo o responsável pela busca da nova imagem. ”Pelas pesquisas que fizemos até o momento ele provavelmente tinha um rosto mais robusto e usava roupas mais simples do que aquelas que vemos hoje em pinturas e estátuas, uma vez que a ordem franciscana tem como uma de suas premissas o desapego aos bens materiais. Não queremos derrubar o legado de Santo Antônio, e sim, cientificamente, conhecer melhor essa figura tão importante para o mundo,” destaca o 3D designer Cícero Moraes.
 
Além das referências históricas, Cícero tem algo precioso que pode ajudá-lo a chegar a quase 70% do que seria o rosto verdadeiro do santo. Os ossos e o crânio estão conservados.
 
O corpo repousa na Basílica de Santo Antônio de Pádua, na Itália, onde um grupo de frades toma conta dos restos mortais e se encarrega de estudos sobre a vida e a obra do santo. ”É com base no crânio dele que conseguimos informações e referências para nos aproximarmos do homem que realmente foi. Não há precisão de 100% nesse trabalho, mas com base em outros que fizemos, podemos afirmar que características básicas e marcantes podem ser evidenciadas trazendo à luz uma face muito compatível com aquela que ele teve em vida,” destaca.
 
ARTISTA
 
Cícero Moraes é um dos palestrantes mais requisitados do Brasil para eventos de tecnologia 3D livre. Neste ano está convidado para atender a Campus Party, um dos maiores eventos de inovação tecnológica, internet e entretenimento eletrônico do mundo, que será realizada de 27 de janeiro a 2 de fevereiro de 2014 em São Paulo. 
 
É especialista em criar imagens em 3D para peças comerciais e jogos utilizados em computadores, com trabalhos desenvolvidos para clientes brasileiros e de outros países. Nos últimos dois anos estuda e desenvolve reconstruções faciais. ”Comecei isso por paixão, por hobby. Graças a internet, importantes museus dentro e fora do Brasil se interessaram pelos trabalhos. Então tive que buscar novas informações,” conta o profissional.
 
Cícero usa um programa livre de computador chamado Blender para a modelagem 3D e precisa também de estudos aprofundados sobre reconstrução de faces, odontologia, história, antropologia e outras ciências. “Eu não tenho formação universitária nessa área. Sou formado em Marketing e pós-graduando em Metodologia do Ensino Superior, mas estudei sobre técnicas que são desenvolvidas desde 1895. Há três grandes escolas, a Americana, a de Manchester e a Russa. Adquiri livros de todas e me aprofundei no assunto para começar esse trabalho que não desenvolvo sozinho,” complementa.
 
Na Itália, entre outros, Cícero atua em parceria com como o grupo de pesquisas arqueológicas Arc-Team, formado por antropólogos e arqueólogos, dentre eles Luca Bezzi. “O Cícero é um dos nossos colaboradores mais ativos. Lançamos vários desafios e ele sempre nos atendeu com profissionalismo e dedicação. O fato de ele ter sido escolhido para esse projeto da face de Santo Antônio se deve aos resultados que apresentou. O esforço dele e de seus parceiros está direcionando a arte e a ciência da reconstrução facial para uma padronização de procedimentos,” destaca.
 
No Brasil, Cícero tem como parceiros o Museu Egípcio e Rosacruz, o Museu de Arqueologia Ciro Flamarion Cardoso, o Centro de Tecnologia Renato Archer (CTI) de Campinas-SP, o OFLAB-USP (Laboratório de Antropologia e Odontologia Forense da USP), além do especialista em Odontologia Legal, o Dr. Paulo Eduardo Miamoto Dias. “No Laboratório de Morfologia e Antropologia Forense, tive acesso a tecnologias 3D aplicadas à Antropologia Forense. Entrei em contato com o Cícero, convidando-o para contribuir nos trabalhos que estava desenvolvendo no exterior. A parceria foi ótima, pois pudemos constatar que para algumas áreas que utilizamos na Reconstrução Facial Forense, os resultados obtidos com softwares e tecnologias abertos foram praticamente iguais aos obtidos com softwares e tecnologias comerciais. O resultado é evidente, na qualidade das reconstruções que são feitas em parceria nossa com diversas instituições, sejam elas de ensino, de perícias ou museológicas. Nossa parceria se estende também ao ensino, área na qual oferecemos cursos de RFF digital com softwares abertos,” afirma.
 
ENTREGA
 
O projeto Il Volto di Sant'Antonio deve ser concluído em novembro para ser apresentado em uma exposição na cidade de Pádua na Itália. Em fevereiro a nova face será impressa em 3D. Ela será entregue ao Museu de Estudos da Universidade de Pádua no dia 13 de junho, dia do santo. ”Eu e meus parceiros, estudiosos, mestres e doutores do Brasil e da Itália, que coordenam essa atividade, respeitamos profundamente a fé das pessoas que associam seus pedidos, buscas e veneração por Santo Antônio, do jeito que ele parece ter sido e também do jeito que ele vai parecer quando o reapresentarmos ao mundo. Mais importante do que a figura é a história pessoal que esse homem deixou como legado para o mundo. Ele foi alguém que não alimentava temor de dividir o conhecimento e ajudar o próximo. Algo que não levou para outra vida mas deixou para nós e por esse motivo é que nos referimos e o admiramos até hoje,” finaliza Moraes.