Cnt_ext_258559Em um sábado (30) de movimento bem menor, Marcos Figueiredo, engenheiro que trabalha no desenvolvimento de tecnologias computacionais para melhorias de satélites da Nasa (agência espacial norte-americana), marcou presença na Campus Party Brasil. Entusiasta do software livre, ele defende a abertura de conhecimento espacial para um bem comum: tornar o programa espacial mais avançado com o compartilhamento de informações.



No entanto, não será uma tarefa fácil. Segundo Figueiredo, existe o que ele chama de "cultura do segredo" impedindo o desenvolvimento tecnológico nessa área. "Os projetos são repetitivos", afirma. "Se eu falar em abertura [de conhecimento] em uma convenção espacial, vão achar que isso é uma heresia".

Isso significa também que, duplicando os esforços para um objetivo, implica-se em gastos ainda maiores. Mas existem consequências de se abrir um conhecimento tão avançado. "A mesma tecnologia utilizada para lançar foguetes pode ser usada para lançar bombas", explica. Por isso mesmo, segundo o cientista, é preciso uma abertura consciente, mas não irrestrita.

Corrida no espaço

A indústria espacial, segundo dados apresentados por Figueiredo, gasta um total de US$ 257 bilhões em 2008. O governo é responsável por 32% desse investimento, com 68% para a indústria privada (por meio de satélites de comunicação, sistema GPS, entre outros). Somente a Nasa é responsável por US$ 17,3 bilhões, com a ESA (agência espacial europeia) com US$ 4,7 bilhões. O Brasil, por sua vez, gastou US$ 130 milhões nesse período.

Isso não significa, no entanto, que o país não possa desenvolver projetos pioneiros. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) tem projetos com software livre que podem viabilizar, segundo o cientista da Nasa, o desenvolvimento tecnológico aeroespacial. Diferentemente do Estados Unidos, onde um projeto chamado "Flight Linux", que colocou em funcionamento um satélite com o sistema operacional de código livre, foi proibido por conta de uma lei que obriga a utilização de sistemas protegidos.

Inclusão digital

"A legislatura dos países não avança tão rápido quanto as tecnologias, mas elas acabam forçando a mudança das leis", analisa. Por isso, fala da iniciativa brasileira de telecentros, que fornecem internet a comunidades carentes e fora dos grandes centros urbanos. Para o engenheiro, elas são a ferramenta ideal para fornecer acesso e promover a inclusão digital.

Figueiredo promoveu a instalação de telecentros conectados via satélite no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais, Estado onde nasceu. E um caso em especial lhe dá mais orgulho: o de Eva, uma moradora local que, após a passagem do cientista, utilizou a internet para se formar no curso superior de pedagogia. "Estamos criando incentivo para que haja pessoas qualificadas, estudando para realmente poderem ajudar", disse.

Fonte: Band