Venho há muito tempo (tanto que não me lembro quando comecei) falando em minhas palestras pelo país sobre as oportunidades relacionadas com software livre e mais especificamente com ferramentas de gestão. Este assunto já foi motivo de artigo em revista, de texto em blog e sempre é recorrente em quase todas as minhas apresentações.

Num país onde sete milhões de jovens estão as margens do trabalho decente mesmo se considerando os mais otimistas do mundo quando seus futuros, não ouvir este tipo de aviso é como estar num barco com o casco aberto, acreditar que a água não vai entrar e que você não deve usar colete salva-vidas.

Esta semana saiu em um dos blogs da CNET um texto que vem reforçar esta minha tese (parece que sempre precisamos dos gringos para acreditar em algo) e cujo o título não poderia ser mais direto: Precisa de emprego? Aprenda Drupal. Descaradamente o autor deu nome aos bois e apresenta diversos motivos para que os leitores desejosos e/ou necessitados de emprego aproveitem esta oportunidade. Dentre estes motivos estão:

* Existem mais empregos que desenvolvedores – isso é fato lá e aqui. Minha empresa é uma das que procura incessantemente profissionais capazes de desenvolver em Drupal e não encontra. Isto gera um efeito negativo para toda a cadeia que é a dispensa de projetos que de uma forma ou de outra migram para outras plataformas;

* Drupal está maduro – depois de nove anos na estrada, o CMS chegou num estágio de maturação bem alto e que está levando empresas e organizações a adotá-lo como ferramenta padrão. Lá fora, a Casa Branca, a G&M, a Procter & Gamble (Duracell, Gillete, Braun, Pampers, etc) já usam. Aqui, Gizmodo e Instituto Insper são exemplos de usuários satisfeitos com o CMS;

Outro ponto destacado no texto é a dica (já dada por mim anteriormente) para desenvolvedores de antigas tecnologias que hoje não encontram tantas oportunidades em suas áreas, podem e devem se qualificar em novas tecnologias, como em ferramentas de gestão e também, porque não, nos grandes nomes do software livre como Linux, Apache, MySQL, PostgreSQL, Joomla! e outros. Esmurrar ponta de faca não se apresenta e nunca se apresentou com algo interessante de ser feito.

O leitor pode estar então se questionando; onde aprender? Livro? Curso? Tutorial? Osmose? A dica aqui é: fazendo. Faça o download do CMS, instale em seu computador e inicie a busca de informações na web. Por ser um software livre e carregar em sua gênese a colaboração, existe muito conteúdo disponível na rede para seu aprendizado (inclusive neste blog). Participe de fóruns de discussão e listas, vá em eventos, troque experiências. Infelizmente nosso país ainda não acordou para a educação em todos os níveis, inclusive nesta área.

É passageiro, não vale a pena o investimento

Dias atrás recebi uma mensagem criticando minha posição relacionada ao aprendizado de ferramentas. O autor dizia que é desperdício de tempo ficar estudando uma determinada ferramenta ou aplicativo que depois de algum tempo não mais vai existir. Verdade?

Em minha opinião esta é a desculpa daqueles que esperam um emprego público no melhor estilo “aspone” ou ainda que caia do céu a oportunidade dos sonhos. Com o cenário econômico que o mundo está atravessando, acredito que ambas as opções estão longe de serem palpáveis.

Certamente tecnologias vem e vão ao longo dos anos e isso é inerente a tudo o que se faz. Hoje não mais existem carros com chapas espessas como os que saiam das montadoras há 40 anos. Também não mais existem aparelhos de video-cassete ou discman. Nem mesmo a Coca-Cola é a mesma. Eu aprendi a programar diversas linguagens para a web como Cold Fusion e ASP e muitas destas linguagens pouco são usadas nos dias de hoje. Desperdicei tempo? Certamente não. Conhecimento nunca é desperdício de tempo.

Pode ser que eu esteja enganado e que as ferramentas de gestão sejam dizimadas do planeta nos próximos anos. Sim, é possível. Até mesmo os dinossauros desapareceram. Mas se eu fosse apostar (como aposto), elas vão estar ainda por muito tempo no mercado e aqueles que chegarem primeiro certamente terão uma piscina cheia para nadar sozinho. E melhor, com água morna.


Por Paulino Michelazzo