Para o coordenador da Associação Software Livre (ASL), Ricardo Fritsch, o escândalo de espionagem levado a público pelo ex-agente da CIA Edward Snowden fortalece a posição a favor do software livre em todo o mundo. “Isso mostra os perigos de enveredar pelo mundo do software proprietário sem abrir o código, sem saber o que está dentro dele. O mundo todo pede transparência. Nós queremos transparência de governos, de empresas, de movimentos, e também queremos transparências de softwares. É aí que o software livre entra: ele é naturalmente transparente”, defende.

De acordo com Fritsch, à frente da entidade desde 2010, a denúncia contra o governo norteamericano e as empresas de software proprietário já vem sendo feita há anos. “Estão espionando empresas e governos de uma forma bastante descarada. E o pior é que nós não conseguimos fazer nada porque, quando compramos um software proprietário, esse software aparentemente é seguro. Na realidade, como não podemos auditar isso, ele não é seguro. Snowden mostrou tudo isso”, diz.

Fritsch fez as declarações enquanto fazia um balanço dos 10 anos de atuação da entidade, completados no dia 11 de setembro. Fundada em 2003 e sediada em Porto Alegre, a Associação Software Livre é o resultado da institucionalização e legalização do Movimento Software Livre Brasil, que se iniciou em 2000, quando um grupo de ativistas se reuniu em Porto Alegre para o primeiro Fórum Internacional de Software Livre – que ocorre até hoje, organizado pela ASL. Atualmente, a associação reúne universidades, empresários, poder público, grupos de usuários, hackers, ONGs e ativistas e está presente em vários estados.

Ao longo desses anos, a Associação viu crescer a presença do software livre em máquinas de todo o mundo. De acordo com Fritsch, com tablets e smartphones, o software livre se tornou um campeão. “O Android é baseado em software livre. Os softwares que hoje rodam a internet são baseados em Linux e em softwares livres. Nós podemos citar também a suíte de escritório, com texto, planilha e apresentação, através do Oppen Office, que tem alcançado cada vez mais utilização, tanto na área governamental como em empresas”, avalia.

De acordo com ele, com o tempo, a entidade ampliou sua atuação e hoje trabalha com o conceito de “conhecimento livre”. “Antes nós discutíamos apenas software livre. Depois passamos a discutir outros assuntos, como internet livre, hardware livre e questões sobre cultura digital”, explica. Ele destaca ainda a atuação da Associação no Marco Civil da Internet e para a realização da 11ª Oficina de Inclusão Digital e Participação Social em 2012, em Porto Alegre. “A Associação Soft-ware Livre consegue fazer de Porto Alegre uma referência no mundo da tecnologia”, afirma.

Fritsch contou ainda que está trabalhando junto ao Ministério da Ciência e Tecnologia para que se faça um estudo a fim de saber o volume de dinheiro que o mercado de software livre movimenta. “Grandes organizações utilizam em grande escala. Como não há pagamento de licenciamento, então muitas vezes esses números acabam não entrando. Mas suporte técnico e treinamento são aspectos importantes. Lotéricas, bancos estatais, urna eletrônica, C&A, tudo isso utiliza software livre. Certamente alguém está dando suporte para a C&A e para o Banrisul”, pondera.

Segundo ele, os próximos desafios da entidade são tornar o conhecimento livre uma premissa de organizações governamentais e empresariais e montar estruturas de negócios capazes de combater o lobby das grandes empresas de software proprietário. “O grande desafio é exatamente fomentar a tecnologia nacional”, conclui.