Por Leo Kelion, repórter de tecnologia da BBC. Tradução livre por Mariel Zasso e Carlos Machado

 

Saiu hoje, na seção de tecnologia da BBC de Londres: Brasil planeja serviço de email seguro para impedir "espiões cibernéticos"

Em reunião na ONU, em setembro, a Presidenta Dilma Rousseff declarou que interceptação de suas comunicações é uma violação à lei


A Presidenta Dilma Rousseff postou este fim de semana uma série de tweets dizendo que a mudança no sistema de comunicações do Governo Federal é necessária para "prevenir possíveis espionagens". Ela acrescentou que o Serpro, o Serviço Federal de Processamento de Dados, ficará a cargo de desenvolver o sistema.

Um especialista consultado pela BBC disse que a tecnologia envolvida está bem estabelecida, mas tem limitações:

"Há um bom precedente para isso com o provedor alemão Gmx.de", disse o professor Ross Anderson, cabeça do grupo de segurança no laboratório da Universidade de Cambridge. "Eles precisam apenas dizer à companhia que mantenha os servidores no Brasil, encriptando todo o tráfego dentro ou fora do país, e somente dando acesso à polícia brasileira e aos serviços de inteligência." "Ponto, é isso, é banal. É um problema bem entendido e bem solucionado."

Ele disse que o sistema brasileiro poderia ser desenvolvido para interagir com o Gmx alemão, ou serviços encriptados equivalentes, e nesse caso a NSA (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos) e o GCHQ (Escritório de Comunicações do Governo do Reino Unido) seriam efetivamente calados ao menos que os países onde os servidores relevantes estivessem alocados decidissem cooperar.

Mas ele acrescentou que a informação ainda poderá ser interceptada se "cyber-espiões" forem capazes de instalar malware nos computadores dos seus alvos ou se os usuários se corresponderem com alguém que esteja usando um serviço de email não seguro. "Do ponto de vista das pessoas escrevendo umas para as outras no Brasil, eles tem alguma proteção contra a bisbilhotagem estrangeira, embora a cada dia mais e mais negócios sejam feitos internacionalmente", disse Anderson.

"Como o Gmail tendo em torno de um terço do tráfego total de email no mundo, isso significa que os estadunidenses ainda serão capazes de ler uma quantidade imensa de mensagens." "Se você tem um email copiado para uma dezena de pessoas diferentes, é muito provável que um deles esteja usando o serviço do Google"

Alegações de espionagem

  • Até 2002, os Estados Unidos manteve uma base em Brasília para interceptar transmissões de satélites estrangeiros.
  • A vigilância é desenvolvida através de parcerias entre telecoms brasileiras e agências estadunidenses.
  • Grandes empresas e visitantes estrangeiros são alvos rotineiros.

 

Cúpula Internacional

O anúncio da presidenta Dilma Rousseff segue alegações de que a NSA teria hackeado a Petrobrás e interceptado bilhões de emails e chamadas telefônicas brasileiros. Ela adiou uma visita oficial a Washington em setembro, depois das alegações de que a agência teria como alvo também seus emails e ligações. "Sem respeito à soberania, não há base para o relacionamento entre as nações", ela disse posteriormente à ONU.

 

Tweets da Presidenta

No domingo, Presidenta Dilma postou três tweets anunciando as novidades


A Presidenta Dilma também usou o twitter para anunciar planos de sediar uma Cúpula Internacional, em 2014, para discutir segurança na internet. O evento poderá ser usado como uma oportunidade para renovar o pedido de que o ICANN (Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números) e outras organizações que supervisionam a rede passem ao menos alguns de seus poderes para a ONU. Atualmente a ICANN - que coordena os sistemas de numeros e códigos da Internet - está oficialmente sob tutela do Departamento de Comércio dos EUA, embora opere independentemente. Os EUA resistiram à idéia, e um conflito de visões sobre a matéria contribuiu para o fracasso quanto a assinatura de um tratado durante a conferência da União Internacional de Telecomunicações (ITU) ano passado, em Dubai.

Semana passada - após uma reunião entre o presidente da ICANN e a Presidente Dilma - a própria ICANN apoiou os pedidos de aceleração da globalização de suas funções "em vistas de um ambiente no qual todos os atores, incluindo todos os governos, participem em pé de igualdade."

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