Viewed 219 timesEntrevista para a TV Brasil durante a Bienal do Livro de Brasília.
Correio Braziliense: Eu, estudante
As novas tecnologias e o futuro do homem
Marcelo Branco criticou posição da indústria fonográfica na era downloadTer medo da tecnologia não ajuda a enfrentar o tema. Por isso, o sociólogo Sérgio Amadeu e o fundador do Software Livre Brasil, Marcelo Branco, insistiram na liberdade como arma para não deixar a tecnologia se tornar um monstro na sociedade contemporânea. Os dois participaram do debate A revolução da internet e as transformações sociais e culturais, que contou com vídeo gravado pelo cineasta e escritor Jean-Claude Carrière especialmente para a Bienal. Na gravação, o autor de Não contem com o fim do livro (em parceria com Umberto Eco) revela não acreditar que a tecnologia seja a responsável por mudanças profundas na leitura e na escrita.
Para Carrière, computadores facilitam o trabalho, mas não mudam a essência da linguagem. “As novas técnicas vendem novas ideias? Não. Elas estão aqui para facilitar. Seria absurdo nós nos privarmos disso tudo e é absurdo pensar que isso vai acabar com o livro”, disse. “É preciso entender as novas tecnologias com o que elas podem nos oferecer, mas, se pensarmos que elas vão nos dar ideias, estamos errados.”
Sergio Amadeu, defensor do Software Livre, discordou de Carrière. “Acho que tanto o livro quanto a escrita do pensamento estão mudando. A linguagem é uma das grandes tecnologias que os humanos inventaram para viabilizar a vida. A tecnologia é uma das maiores expressões culturais.” O sociólogo também defendeu a liberdade na internet, especialmente no que diz respeito aos programas de computador disponíveis no mercado.
Ele questionou a durabilidade do suporte digital: uma folha de papel pode ser lida da mesma forma há centenas de anos, mas ninguém sabe se um arquivo de texto de hoje poderá ser lido em 100 anos porque os formatos podem ficar obsoletos. “Estamos construindo uma sociedade dependente do formato e você tem que lutar para que o formato no qual você guarda seus arquivos esteja acima de qualquer empresa”, reparou Amadeu, preocupado com o risco de as multinacionais da informática se apropriarem das memórias pessoais dos usuários.
Os brasileiros, disse Amadeu, estão entre os maiores produtores de conteúdo do planeta. Google, Facebook, YouTube e Yahoo são as quatro páginas mais acessadas do mundo e os brasileiros estão em quarto lugar no ranking de produção de conteúdo para esses sites. O sociólogo lembrou ainda o papel das redes sociais na comunicação planetária. “A separação entre rede e realidade não existe. O virtual não é antagônico ao real, o virtual é uma forma de existência do real e a rede ampliou a diversidade cultural.”
Liberação de conteúdos
O download de música e a liberação do uso dos conteúdos pautou a fala de Marcelo Branco para um auditório lotado de jovens ouvintes na tarde de terça-feira. “A indústria fonográfica culpa os fãs e diz que eles estimulam o crime organizado. Tudo isso é falso. Não há comprovação de que criadores perdem receita porque fãs baixam música na internet”, garantiu Branco ao apontar dados de estudo realizado pela London School of Economics.
O ativista e especialista em sociedade da informação encara a indústria fonográfica como intermediária entre o consumidor e o criador no mundo pré-internet. Hoje, a intermediação tornou-se desnecessária, mas as grandes corporações insistem em controlar o processo. “Os lobbies tentam manipular o significado da internet”, defendeu. “Essas indústrias são responsáveis pelos maiores lobbies no sentido de propor uma legislação que criminalize os consumidores.”A atuação da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, foi criticada ao longo de todo o debate. A retirada do selo Creative Commons do site do Ministério da Cultura no início da gestão da ministra e o entrave em relação à nova lei de direitos autorais são vistos pelos pesquisadores como retrocesso. “Até então, o MinC promovia um debate em torno de uma cadeia produtiva mais adequada. Essa mudança indica um alinhamento político do MinC com o Ecad, com a indústria que é a mesma de Hollywood. Temos que acabar de uma vez por todas com essa confusão entre a cópia privada e a pirataria.” (NM)
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