20 de Agosto de 2008 - 09h31 - Última modificação em 20 de Agosto de 2008 - 09h31
Rede acadêmica permite que médicos troquem informações sobre procedimentos
Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O diretor-geral da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Nelson Simões, afirma que as redes acadêmicas funcionam como uma internet especial, de alta velocidade, possibilitando a transmissão rápida de grande volume de informações.
O programa é desenvolvido pela Secretaria de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pela manutenção da infra-estrutura da Rede Ipê, uma estrutura acadêmica que integra instituições de ensino e pesquisa de todo o país por meio de um sistema de comunicação capaz de transmitir informações em alta velocidade.
Ontem (19), foi inaugurada a rede metropolitana de São Paulo, que deverá facilitar e ampliar a divulgação de estudos científicos.
Agência Brasil: Como funcionam e qual a importância das redes acadêmicas?
Nelson Simões: As redes de educação e pesquisa são como uma internet especial, de alta velocidade [a inaugurada na cidade de São Paulo deve atingir uma velocidade de 1 Gbps], ligando universidades e centros de pesquisa. Digo que são especiais porque elas são avançadas, contando com aplicações que não existem na internet banda larga que um usuário doméstico usa. Por meio delas, é possível transmitir todo um procedimento cirúrgico ou mesmo controlar, a distância, um telescópio.
ABr: Então, para citarmos apenas um exemplo, núcleos de telemedicina como os inaugurados ontem, em São Paulo, seriam inviáveis sem essas redes ópticas para transmissão de dados em alta velocidade?
Simões: Seriam. Quando toda a Rede Universitária de Telemedicina estiver implementada, os hospitais de ensino ligados às universidades federais se integrarão à infra-estrutura de rede da RNP, transmitindo um grande volume de informações. Essas instituições estarão conectadas entre si e também com outras iniciativas de telessaúde, podendo realizar desde ações de educação de profissionais da área médica até a discussão de casos ou o atendimento para uma segunda opinião médica, tudo a distância.
ABr: Quantas instituições de ensino já fazem parte da rede acadêmica nacional, a chamada Rede Ipê?
Simões: Hoje, há 400 instituições de todo o país ligadas à rede nacional, todas as universidades federais e Centros Federais de Educação Tecnológica [Cefets]. Os hospitais universitários federais também estão se integrando progressivamente.
ABr: De que forma a tecnologia é aplicada por uma escola ou curso tecnológico?
Simões: Nos Cefets, é possível que uma escola simule em seus computadores, por meio de processamento gráfico, a geração de uma peça ou o design de um circuito e os transmita para outra escola. Essa tecnologia é uma ferramenta essencial em uma sociedade que depende cada vez mais de comunicação e de visualização da informação.
ABr: E como as instituições de ensino de localidades em que essas redes ópticas de alta velocidade ainda não existem podem se integrar à rede nacional?
Simões: De uma forma mais precária. Às vezes, por meio de conexões de provedores privados, outras vezes, por meio de uma infra-estrutura implantada pela RNP ou por elas próprias, mas que tem menor capacidade de transmissão. Ou seja, há uma mistura de soluções com menor velocidade e pior qualidade. Para as novas aplicações de que falei, nós precisamos de uma rede muito avançada.
ABr: Nesse primeiro momento, o projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia é integrar pelo menos as 27 capitais. Como beneficiar as cidades afastadas dos grandes centros urbanos?
Simões: Nessa primeira etapa, nós queremos atacar as áreas mais densamente povoadas, as que concentram mais centros de pesquisa, mas já há um movimento de interiorização dessas redes. Atendendo ao desenvolvimento do Plano de Educação do Ministério da Educação, a RNP já vem integrando instituições de ensino do interior.
ABr: E em que ritmo se dará essa “interiorização”?
Simões: Até 2010 serão criadas 150 novas escolas técnicas, a grande maioria delas em pólos regionais ou mesmo em cidades pequenas, todas distantes das capitais. E, gradativamente, esse nosso processo de integração vai atender também a esses pólos regionais. Hoje, já há dez redes semelhantes às das regiões metropolitanas sendo implantadas em cidades do interior, como, por exemplo, em Pelotas [RS], Campinas [SP], Petrópolis [RJ], onde há instituições importantes.
ABr: E já há exemplos de sucesso no ramo da telemedicina?
Simões: Sim, há experiências muito boas de integração entre hospitais que realizam procedimentos complexos e médicos do interior que, sem os mesmos recursos, não conseguiriam dar um diagnóstico. Em Santa Catarina, onde já há um núcleo da Rede Universitária de Telemedicina no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Santa Catarina, as pessoas que vivem no interior e que precisam fazer um ultra-som podem fazê-lo em um posto integrado à rede estadual. Os laudos desse vídeo são então analisados por um professor que está na universidade, na capital do estado. O diagnóstico é muito preciso e, curioso, com isso aumentou a procura pelo serviço prestado nessa cidade, diminuindo a necessidade das pessoas se deslocarem até Florianópolis, o que significa uma economia brutal para o sistema.
ABr: Como garantir os recursos necessários para ampliar todas essas iniciativas de que o senhor falou? Há risco de descontinuidade do programa?
Simões: Os Ministérios da Ciência e da Tecnologia e da Educação definiram isso como uma política de Estado para a integração desse sistema. Os recursos disponibilizados para atender a essas metas ambiciosas que vão se estabelecer ao longo dos anos vêm do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Há todo um planejamento e todas essas ações serão realizadas ao longo do tempo.
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