Viewed 121 timesMais uma vez, a Latinoware abre espaço para sessões de produção gráfica com softwares livres, ampliando também para a produção multimídia. Além do tradicional foco de apresentar as mais recentes novidades tecnológicas, a trilha de softwares gráficos irá privilegiar o usuário não especializado e também abordar, em suas várias atividades, a viabilidade do uso exclusivo de software livre para a publicidade, propaganda, gráficas e outras atividades. Confira um pouco mais sobre o tema nesta entrevista com Luciano Lourenço.
Latinoware: Luciano, a Latinoware tem se constituído em um fórum para a apresentação, discussão e até capacitação no uso de ferramentas para a produção gráfica em software livre. Neste ano, inclusive, teremos a presença do Igor Novikov como um de nossos keynotes, falando sobre o sK1 e o uniconverter, ferramentas que auxiliam na migração de ambientes proprietários, como o Corel e o PhotoShop. Como profissional de artes gráficas, você consegue usar exclusivamente ferramentas de software livre para tudo? Inclusive para a troca de informações com gráficas?
Luciano: A Latinoware vem incentivado muito a discussão sobre esse assunto, sobre a produção de material gráfico com software livre, inclusive no ano passado a Latinoware sediou a LGM Brasil, onde esse assunto foi amplamente abordado, com palestras, minicursos e discussões em torno desse tema.
Sobre a possibilidade de trabalhar exclusivamente com software livre, o grande obstáculo que encontramos hoje para que a possibilidade de um artista gráfico possa trabalhar somente com Software Livre está exatamente na troca de arquivos com as gráfica, pois hoje é perfeitamente possível a criação de materiais para campanhas e eventos, usando apenas Software Livre. Prova disso é o Encontro Nacional do BrOffice.org, em que, inicialmente, toda a produção de material gráfico e impresso foi feito em Software Livre, 100% feito nessa ferramenta.
O grande problema é que, em alguns casos, a gráfica simplesmente se negou a aceitar o material que não fosse em CDR, o que fez com que eu tivesse que converter certos arquivos para o formato do Corel. Se pensarmos bem, tudo foi feito em software livre, apenas alguns tiveram que ser convertidos e, em casos que a conversão não ficou 100%, alguma revisões tiveram que ser executadas. Portanto, eu acho que é ai que nós temos que trabalhar fortemente para mudar essa postura eom relação a esses serviços. Eu acho que devemos apresentar também esse software não só aos artistas gráficos e sim às gráficas. Assim, num futuro muito próximo, poderemos ter a possibilidade de trabalhar 100% com programas como o Inkscape e o Gimp sem nenhum contratempo.
LW: Você participa ativamente da organização dos temas relativos às aplicações gráficas tanto na Latinoware como em outros eventos. O que podemos esperar de mais novo na Latinoware deste ano?
Luciano: Esse ano nós pretendemos abordar o lado profissional, a parte da produção com o uso do Software livre. Queremos abordar as soluções e desafios para quem está pronto a migrar para alguma ferramenta livre. Esse ano, queremos palestras que reflitam mais uma visão de mercado e não tanto a questão do desenvolvimento. Lógico que em alguns momentos o desenvolvimento e o apoio serão abordados, pois eles são essenciais ao nosso trabalho, mas queremos focar no produto final, aquele que faz o software ser útil, e no porquê das barreiras que a indústria tanto impõe à utilização dos formatos vindos desses softwares.
Vamos focar no que já foi criado e o que pode ser criado com a utilização desses softwares. Queremos apoiar e incentivar aqueles que queiram migrar e oferecer assistência a quem tenta e não consegue se libertar dos velhos padrões da indústria gráfica. Isso é o que queremos trazer para a Latinoware 2010, explicar as vantagens na utilização e ver quais os motivos de tanta dificuldade em se adequar a o que vem sendo uma tendência mundial em vários setores.
LW: Com alguma frequência ouvimos notícias de grandes estúdios como a Pixar e a ILM utilizando softwares livres. Essas empresas contribuem também para o desenvolvimento desses softwares?
Luciano: O caso dessas empresas é um impulso para que o Software Livre seja notado nesse setor e possa, em um futuro mais próximo do que imaginamos, ser uma alternativa concreta aos softwares proprietários. Por outro lado, não se vê notícias de que a ILM, a Pixar ou a Dreamworks contribuem efetivamente para o desenvolvimento de qualquer software que utilizamos atualmente, o que, vendo por esse ângulo, é meio que frustrante, pois o nosso maior trunfo realmente utiliza ferramentas livres com “receita à moda da casa”, e essa receita, pelo que eu sei, nunca chega de volta para a comunidade.
O que eu sei de fato é que empresas como a Dreamworks, por exemplo, se interessam pela plataforma e não diretamente pelo software. Recentemente eles firmaram mais um contrato com a Red Hat, sem contar que sabemos muito bem que empresas como a Autodesk Alias já portaram softwares como o Maya para o Linux. Portanto, a concorrência nesse caso é fortíssima, mas, por outro lado, isso acaba por direcionar melhor vários recursos dentro do Linux e seus gerenciadores de janelas, que visam melhorar o gerenciamento de cores, performance de vídeo e outras funções que precisamos, e muito, quando formos “peitar” as soluções proprietárias. Temos também casos de softwares que são pouco citados, mas que foram melhorados para que essas empresas pudessem utilizar o sistema, como o Cine Paint e alguns recursos de gestão de perfis de cores para o Linux, como o Argyll e o ICC Examin.
A utilização de recursos do Software Livre por essas empresas vem para criar uma ótima e bem-vinda tendência nesse setor e, por consequência, fortalece a necessidade de melhorar os recursos que temos para que um dia, quem sabe, tenhamos produções cinematográficas totalmente feitas em Software Livre.
LW: Uma das preocupações da Latinoware é sempre mostrar a viabilidade de negócios com software livre. É possível, hoje, operar um estúdio de produção gráfica com softwares livres e ganhar dinheiro com isso?
Luciano: Sim, eu tenho certeza absoluta que é possível, pois temos ferramentas tão boas e algumas superiores às soluções proprietárias. Algumas vezes temos problemas, não com o resultado do trabalho que fazemos, e sim com a outra parte da produção gráfica, que é exatamente as empresas que irão finalizar o trabalho, que irão imprimir tudo o que criamos.
A indústria gráfica, atualmente, é muito dependente de um ou dois formatos, que já se consolidaram dentro dessa indústria, que é um tanto resistente a mudanças nesse sentido. Atualmente eu consigo produzir um trabalho de altíssimo nível, usando apenas softwares livres. Em algumas situações temos que usar algum recurso extra para fechar o arquivo para impressão, mas esse tempo perdido na utilização desse subterfúgio acaba sendo compensado pela maior agilidade e flexibilidade que é trabalhar com uma ferramenta como o Inkscape, por exemplo. Sabemos que ele não gera ainda saída no espaço de cores CMYK, mas podemos exportar para a imagem abrir no Krita, indexar o perfil e fica perfeito.
Também temos outras soluções, como o SK1 para converter para CDR se não tiver jeito. Temos o Gimp, que também já separa as cores usando o plugin Separate2, e, por fim, o Scribus, que tanto serve para converter SVG em PDF com CMYK, como também é uma ótima ferramentas para diagramação.
Posso te garantir que um estúdio poderia trabalhar exclusivamente com SL e ganhar dinheiro. Digo isso porque tanto eu, como outras pessoas, muitas nem tão ligadas à divulgação desses softwares, utilizam se não 100%, pelo menos 90% dos softwares livres. E isso tende a aumentar, pois esses software já são muito usados por artistas plásticos e web-designers e, no setor gráfico, só depende de algumas mudanças de hábitos.
* fonte: Latinoware 2010
PSL-Brasil - Multimídia e gráficos livres na Latinoware 2010 - Software Livre
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